segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Como gerir as emoções destrutivas de uma forma construtiva?



Um grupo de crianças, com idades entre os 11 e 13 anos, participa num jogo de futebol no bairro. Fizeram duas equipas, como vai sendo habitual desde há 3 anos. Uma das equipas está em desvantagem em relação à equipa adversária quanto ao número de vitórias. Isto é, nos últimos dois encontros perdeu ambos os jogos. A meio do jogo, estavam empatados, o nível de competitividade tinha crescido de tal forma que duas crianças, de equipas diferentes, já se tinham envolvido numa troca de insultos. Mais tarde, num confronto em relação à posse de bola, um deles desequilibra-se e cai magoando-se. Sente-se frustrado, ergue-se de repente, e descarrega a sua raiva sobre o adversário, empurrando-o eliminando-o da jogada. Este sentiu-se ofendido e injustiçado pela agressão vira-se para o agressor e afirma “ Olha lá, isso é falta…estás a magoar-me…” O outro perde a postura e insulta-o verbalmente, empurra-o, e cospe-lhe na cara. De seguida gera-se uma grande confusão entre ambos. Graças à intervenção rápida dos colegas a contenda é interrompida e o jogo acaba, para grande desânimo de todos. Os restantes membros das equipas que não participaram no conflito estão desconfortáveis e responsabilizaram, os dois colegas “rufias”, visto não existir condições para continuar o jogo.

Este exemplo corriqueiro é frequentemente observado entre os jovens portugueses durante as suas interacções, há imensas gerações, todavia ilustra a forma como as emoções destrutivas, do indivíduo, podem influenciar negativamente os valores morais do grupo. Estamos habituados a assistir a este tipo de conflito, entre as crianças, e por norma, como adultos, até valorizamos esta conduta como uma parte da masculinidade (medir forças e status). Exemplos como este podem ser aproveitados para explorar as emoções desconfortáveis e estabelecer um paralelo entre as emoções e os valores sociais. Afinal temos regras sociais que se sobrepõem às emoções dolorosas.

Os valores e as emoções
 Como sabemos, os seres humanos são seres gregários, têm emoções e precisam de diferenciar quais são aquelas que apresentam mais riscos, na interacção com os outros, e aprender como geri-las. Por exemplo, sentir é raiva Ok, ao contrário daquilo que aprendemos ao longo da vida. Infelizmente, aprendemos a reprimir, a negar e a evitar o conflito. Entre sentir raiva e a “explosão” pode ir uma distância significava ou não. Gostaria de salientar que as emoções estão intimamente ligadas aos valores morais e é necessário, ajudar a criança a identificar e a gerir as suas emoções de uma forma mais construtiva e saudável. Este é um dos grandes desafios que os adultos encontram, na Prevenção das Dependências, ao longo do desenvolvimento da criança.

Sabemos que os valores fazem parte da integrante da sociedade e são o meio pela qual nos orientamos e valorizamos. Por exemplo a vergonha, o sentimento de culpa e o medo protegem-nos como grupo. Proporcionam uma determinada dose de segurança quanto aos limites nas relações. Ao evitar sentir estas emoções dolorosas seguimos os padrões, tradições e as regras morais. A moralidade está intimamente ligada à vergonha. Quando as crianças se sentem zangadas, frustradas, e desejam descarregar a frustração e a agressividade a moralidade serve como uma aprendizagem moral (regra – reforço  entre o certo e o errado). Esta aprendizagem será mais proveitosa e benéfica, a médio e longo prazo, se tiver inicio o mais cedo possível e monitorizada por adultos.

Não só as crianças, mas também os adultos têm de lutar com sentimentos pesados, intensos e dolorosos e caso não existam estratégias e competências sociais suficientemente protectoras e construtivas podem gerar comportamentos destrutivos e impulsivos. O que é que acontece quando as crianças desenvolvem crenças morais e primitivas negativas e excessivas?

O modelo de aprendizagem deve ser ajustado em função das necessidades de cada criança e dos respectivos valores. É preciso tolerância, disciplina e compromisso por parte do adulto. Ajudar as crianças a adoptar comportamentos coincidentes com os valores através das emoções (gestão dos problema e da dor, responsabilidade, gratidão, honestidade, adiar a gratificação) em vez de agir nas emoções e ditar valores que geram dinâmicas destrutivas (ex. bulliyng, humilhação, inferioridade). Educar as crianças com critérios austeros e inflexíveis podem gerar níveis elevados de frustração e vergonha.

Algumas dicas:
Ensine a criança a confiar em si e a admira-lo como uma referência (modelo)

Seja paciente, teste os limites da sua tolerância. Peça desculpa, às crianças, por algo que tenha feito de errado ou que se sinta arrependido.

Pergunte às crianças “O que é que vocês precisam de mim?” e faça aquilo que estiver ao seu alcance de forma a satisfazer as necessidades delas.

Seja um ouvinte activo, o máximo que conseguir, sem interromper.

Ensine às crianças os valores morais (sociedade) e a importância da ética. Ajude-as a pôr em prática, esses mesmos valores, nas escolhas e decisões do dia-a-dia.

Ajude-as a explorar e a identificar a gratidão. Não é apenas dizer “Obrigado.”

Mantenha as suas promessas em relação às crianças. Se não for possível, informe-as. Ajude-as a perceber qual ou quais os tipos de circunstâncias que interferiram (imprevisto) nos planos.

Coloque questões às crianças e seja consistente. Quando identificar mudanças ou alterações de comportamento, mantenha-se atento e esteja disponível. 

Encoraje-as a expressar verbalmente os problemas e/ou adversidades nas suas vidas. Como adulto, com quem é que partilha os seus problemas e sentimentos dolorosos?

Seja compreensivo quando elas atravessam uma fase difícil e dolorosa das suas vidas. 

Faça questão de expressar o seu amor, respeito e admiração aconteça o que acontecer.

Seja diligente. Converse com as crianças sobre drogas e álcool. Se você não for você outros farão.







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