Um grupo de crianças, com idades entre os 11 e 13 anos,
participa num jogo de futebol no bairro. Fizeram duas equipas, como vai sendo habitual
desde há 3 anos. Uma das equipas está em desvantagem em relação à equipa adversária
quanto ao número de vitórias. Isto é, nos últimos dois encontros perdeu ambos
os jogos. A meio do jogo, estavam empatados, o nível de competitividade tinha
crescido de tal forma que duas crianças, de equipas diferentes, já se tinham
envolvido numa troca de insultos. Mais tarde, num confronto em relação à posse
de bola, um deles desequilibra-se e cai magoando-se. Sente-se frustrado,
ergue-se de repente, e descarrega a sua raiva sobre o adversário, empurrando-o eliminando-o
da jogada. Este sentiu-se ofendido e injustiçado pela agressão vira-se para o
agressor e afirma “ Olha lá, isso é
falta…estás a magoar-me…” O outro perde a postura e insulta-o verbalmente,
empurra-o, e cospe-lhe na cara. De seguida gera-se uma grande confusão entre ambos.
Graças à intervenção rápida dos colegas a contenda é interrompida e o jogo
acaba, para grande desânimo de todos. Os restantes membros das equipas que não
participaram no conflito estão desconfortáveis e responsabilizaram, os dois
colegas “rufias”, visto não existir condições para continuar o jogo.
Este exemplo corriqueiro é frequentemente observado entre os
jovens portugueses durante as suas interacções, há imensas gerações, todavia
ilustra a forma como as emoções destrutivas, do indivíduo, podem influenciar
negativamente os valores morais do grupo. Estamos habituados a assistir a este
tipo de conflito, entre as crianças, e por norma, como adultos, até valorizamos
esta conduta como uma parte da masculinidade (medir forças e status). Exemplos como este podem ser
aproveitados para explorar as emoções desconfortáveis e estabelecer um paralelo
entre as emoções e os valores sociais. Afinal temos regras sociais que se
sobrepõem às emoções dolorosas.
Os valores e as emoções
Como sabemos, os
seres humanos são seres gregários, têm emoções e precisam de diferenciar quais
são aquelas que apresentam mais riscos, na interacção com os outros, e aprender
como geri-las. Por exemplo, sentir é raiva Ok, ao contrário daquilo que
aprendemos ao longo da vida. Infelizmente, aprendemos a reprimir, a negar e a
evitar o conflito. Entre sentir raiva e a “explosão” pode ir uma distância
significava ou não. Gostaria de salientar que as emoções estão intimamente
ligadas aos valores morais e é necessário, ajudar a criança a identificar e a
gerir as suas emoções de uma forma mais construtiva e saudável. Este é um dos
grandes desafios que os adultos encontram, na Prevenção das Dependências, ao
longo do desenvolvimento da criança.
Sabemos que os valores fazem parte da integrante da sociedade
e são o meio pela qual nos orientamos e valorizamos. Por exemplo a vergonha, o
sentimento de culpa e o medo protegem-nos como grupo. Proporcionam uma determinada
dose de segurança quanto aos limites nas relações. Ao evitar sentir estas
emoções dolorosas seguimos os padrões, tradições e as regras morais. A
moralidade está intimamente ligada à vergonha. Quando as crianças se sentem
zangadas, frustradas, e desejam descarregar a frustração e a agressividade a
moralidade serve como uma aprendizagem moral (regra – reforço entre o certo e o errado). Esta aprendizagem
será mais proveitosa e benéfica, a médio e longo prazo, se tiver inicio o mais
cedo possível e monitorizada por adultos.
Não só as crianças, mas também os adultos têm de lutar com
sentimentos pesados, intensos e dolorosos e caso não existam estratégias e
competências sociais suficientemente protectoras e construtivas podem gerar
comportamentos destrutivos e impulsivos. O que é que acontece quando as
crianças desenvolvem crenças morais e primitivas negativas e excessivas?
O modelo de aprendizagem deve ser ajustado em função das
necessidades de cada criança e dos respectivos valores. É preciso tolerância,
disciplina e compromisso por parte do adulto. Ajudar as crianças a adoptar
comportamentos coincidentes com os valores através das emoções (gestão dos
problema e da dor, responsabilidade, gratidão, honestidade, adiar a
gratificação) em vez de agir nas emoções e ditar valores que geram dinâmicas
destrutivas (ex. bulliyng, humilhação, inferioridade). Educar as crianças com
critérios austeros e inflexíveis podem gerar níveis elevados de frustração e
vergonha.
Algumas dicas:
Ensine a criança a confiar em si e a admira-lo como uma referência
(modelo)
Seja paciente, teste os limites da sua tolerância. Peça
desculpa, às crianças, por algo que tenha feito de errado ou que se sinta
arrependido.
Pergunte às crianças “O
que é que vocês precisam de mim?” e faça aquilo que estiver ao seu alcance
de forma a satisfazer as necessidades delas.
Seja um ouvinte activo, o máximo que conseguir, sem
interromper.
Ensine às crianças os valores morais (sociedade) e a
importância da ética. Ajude-as a pôr em prática, esses mesmos valores, nas
escolhas e decisões do dia-a-dia.
Ajude-as a explorar e a identificar a gratidão. Não é apenas
dizer “Obrigado.”
Mantenha as suas promessas em relação às crianças. Se não
for possível, informe-as. Ajude-as a perceber qual ou quais os tipos de
circunstâncias que interferiram (imprevisto) nos planos.
Coloque questões às crianças e seja consistente. Quando
identificar mudanças ou alterações de comportamento, mantenha-se atento e
esteja disponível.
Encoraje-as a expressar verbalmente os problemas e/ou
adversidades nas suas vidas. Como adulto, com quem é que partilha os seus
problemas e sentimentos dolorosos?
Seja compreensivo quando elas atravessam uma fase difícil e
dolorosa das suas vidas.
Faça questão de expressar o seu amor, respeito e
admiração aconteça o que acontecer.
Seja diligente. Converse com as crianças sobre drogas e
álcool. Se você não for você outros farão.
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