segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Vale a pena mudar ou permanecer cristalizados e impotentes?


Noticia no Jornal de Noticias de 30/12/12:  “Portugueses devem prevenir doenças para ajudar SNS”
O atual Secretario do Estado da Saúde considera que “ os portugueses têm a obrigação de contribuir para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde prevenindo doenças e recorrendo menos aos serviços.” Ainda na mesma notícia referia, e é esta a parte que mais interessa, visto contemplar a questão da prevenção das dependências, “Os problemas ligados ao tabaco, ao álcool e à diabetes tipo 2 (que é prevenível) representam um encargo para o Estado de cerca de 800 milhões de euros. O tabaco custa 500 milhões, o álcool 200 milhões e a diabetes 100 milhões, só em medicamentos. Na prevenção, os ministérios da Saúde e da Educação vão promover um campanha nacional nas escolas para alertar para os malefícios do tabaco, álcool e novas drogas. Em relação ao álcool, o Governo prepara-se para apresentar legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 anos e que restringe a sua comercialização em bombas de gasolina ou lojas de conveniência durante o período noturno.”

Evitando entrar nas questões políticas e dos partidos, mas aproveitando o discurso do senhor secretário do estado, aproveito para abordar, mais uma vez, a inexistência de políticas nacionais que contemplam a Prevenção das Dependências. Segundo os números avançados pelo senhor secretário do estado, em relação aos custos para o Estado, quanto ao tabaco (500 milhões), álcool (200 milhões) onde não faz qualquer referência dos encargos relacionados com as drogas ilícitas, por exemplo as drogas ditas “leves”, posso concluir, mais uma vez pelas palavras do senhor secretario do estado que todos os esforços em relação à politica nacional da prevenção das dependências em Portugal ou são inexistentes visto não haver uma avaliação concreta ou não estão a dar resultados ou mais preocupante não existe. Esta realidade já é uma herança amarga de dezenas de anos, visto não haver vontade politica para mudar; a prevenção nunca funcionou e não funciona com campanhas nas escolas. A prevenção faz-se antes, durante, após o nascimento e ao longo da vida, como sabemos ninguém nasce com um manual de “boas praticas”, neste mundo em constante “alvoroço” e perigoso para algumas crianças vulneráveis.

De acordo com estudos, nos EUA, cada dólar investido na prevenção poupa-se sete dólares no tratamento e vinte e um dólares em serviços sociais. Então se poupa com a prevenção do que é que estamos à espera?

Na minha deslocação pelas escolas e famílias sobre a prevenção todos são unanimes em afirmar que é preciso fazer qualquer coisa porque o fenómeno já se transformou num flagelo, mas depois, quando é necessário elaborar programas e objetivos, assumir compromissos e envolver a investigação e a experiencia o resultado é nulo, porque não existem pessoas que assumam verdadeiramente a causa, com compromisso pela missão.

Por exemplo, quanto à afirmação do senhor secretario do estado sobre a alteração da legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 anos, na minha opinião, a alteração já peca por tardia, visto haver noticias e a investigação realçar o surgimento do fenómeno denominado Binge Drinking entre adolescentes, e em alguns casos entre  jovens com 12 e 13 anos. Acredito que exista vontade política em mudar as mentalidades, mas na prática, é só um plano de intenções, porque nada muda. Esta “promessa” dos políticos e dos partidos, sobre a legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 é difundida há vários anos, diria pelo menos há uma década, e permanece na secretaria dos ministros, visto não ser urgente e eventualmente, haver lobbies, da industria do álcool, que pretendam que as coisas permaneçam como estão, porque os nossos jovens, menores de idade, continuam a representar uma fonte de receita devido ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Se é assim com o álcool, como será com a legalização do cannabis? Não basta legalizar, e depois quais são as estruturas e políticas existentes para a prevenção? E para o tratamento?

De acordo com uma notícia do JN, em 2010, os hospitais portugueses registaram 28 óbitos por uso de álcool ou drogas. Neste mesmo ano, segundo dados da Direção Geral de Saúde (DGS) 3000 doentes foram assistidos por estes motivos, consumos de álcool ou drogas. Convém salientar que o álcool também é uma droga psicoativa e a mais perigosa. No mesmo relatório da DGS sobre a morbilidade hospitalar no Serviço Nacional de Saúde, 2010, houve 3197 doentes a receber alta dos hospitais por uso de álcool e ou outras drogas e perturbações mentais induzidas por estas substancias. Estes doentes representam quase 40 mil dias de internamento durante um ano. Em relação a 2009 registaram-se 31 óbitos por consumo de álcool ou droga, mais 4000 dias de internamento e mais 200 doentes observados por esta causa.

Definitivamente, “mais vale prevenir do que remediar”. A saúde e a qualidade de vida das nossas crianças, tem estar acima dos interesses económicos e dos lobbies. É preciso que os decisores políticos, em conjunto com a sociedade civil, assumam a negligência e mudem os paradigmas disfuncionais que reforçam o consumo, o abuso e as dependências de substâncias psicoativas lícitas, incluindo o álcool e as ilícitas, para depois não virem dizer que o Estado gasta não sei quanto milhões de euros. Em relação ao assunto das dependências, se nada muda, a tendência é para agravar.

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