Noticia no Jornal de Noticias de 30/12/12: “Portugueses devem prevenir doenças para ajudar SNS”
O atual Secretario do Estado da Saúde considera que “ os
portugueses têm a obrigação de contribuir para a sustentabilidade do Serviço
Nacional de Saúde prevenindo doenças e recorrendo menos aos serviços.” Ainda na
mesma notícia referia, e é esta a parte que mais interessa, visto contemplar a
questão da prevenção das dependências, “Os problemas ligados ao tabaco, ao
álcool e à diabetes tipo 2 (que é prevenível) representam um encargo para o
Estado de cerca de 800 milhões de euros. O tabaco custa 500 milhões, o álcool
200 milhões e a diabetes 100 milhões, só em medicamentos. Na prevenção, os
ministérios da Saúde e da Educação vão promover um campanha nacional nas
escolas para alertar para os malefícios do tabaco, álcool e novas drogas. Em
relação ao álcool, o Governo prepara-se para apresentar legislação que limita a
venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 anos e que restringe a sua
comercialização em bombas de gasolina ou lojas de conveniência durante o
período noturno.”
Evitando entrar nas questões políticas e dos partidos, mas
aproveitando o discurso do senhor secretário do estado, aproveito para abordar,
mais uma vez, a inexistência de políticas nacionais que contemplam a Prevenção
das Dependências. Segundo os números avançados pelo senhor secretário do
estado, em relação aos custos para o Estado, quanto ao tabaco (500 milhões),
álcool (200 milhões) onde não faz qualquer referência dos encargos relacionados
com as drogas ilícitas, por exemplo as drogas ditas “leves”, posso concluir,
mais uma vez pelas palavras do senhor secretario do estado que todos os esforços
em relação à politica nacional da prevenção das dependências em Portugal ou são
inexistentes visto não haver uma avaliação concreta ou não estão a dar
resultados ou mais preocupante não existe. Esta realidade já é uma herança
amarga de dezenas de anos, visto não haver vontade politica para mudar; a
prevenção nunca funcionou e não funciona com campanhas nas escolas. A prevenção
faz-se antes, durante, após o nascimento e ao longo da vida, como sabemos ninguém
nasce com um manual de “boas praticas”, neste mundo em constante “alvoroço” e
perigoso para algumas crianças vulneráveis.
De acordo com estudos, nos EUA, cada dólar investido na
prevenção poupa-se sete dólares no tratamento e vinte e um dólares em serviços
sociais. Então se poupa com a prevenção do que é que estamos à espera?
Na minha deslocação pelas escolas e famílias sobre a
prevenção todos são unanimes em afirmar que é preciso fazer qualquer coisa
porque o fenómeno já se transformou num flagelo, mas depois, quando é
necessário elaborar programas e objetivos, assumir compromissos e envolver a
investigação e a experiencia o resultado é nulo, porque não existem pessoas que
assumam verdadeiramente a causa, com compromisso pela missão.
Por exemplo, quanto à afirmação do senhor secretario do
estado sobre a alteração da legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas
a maiores de 18 anos, na minha opinião, a alteração já peca por tardia, visto
haver noticias e a investigação realçar o surgimento do fenómeno denominado
Binge Drinking entre adolescentes, e em alguns casos entre jovens com 12 e 13 anos. Acredito que exista
vontade política em mudar as mentalidades, mas na prática, é só um plano de
intenções, porque nada muda. Esta “promessa” dos políticos e dos partidos,
sobre a legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 é
difundida há vários anos, diria pelo menos há uma década, e permanece na
secretaria dos ministros, visto não ser urgente e eventualmente, haver lobbies, da industria do álcool, que
pretendam que as coisas permaneçam como estão, porque os nossos jovens, menores
de idade, continuam a representar uma fonte de receita devido ao consumo
excessivo de bebidas alcoólicas. Se é assim com o álcool, como será com a
legalização do cannabis? Não basta legalizar, e depois quais são as estruturas
e políticas existentes para a prevenção? E para o tratamento?
De acordo com uma notícia do JN, em 2010, os hospitais
portugueses registaram 28 óbitos por uso de álcool ou drogas. Neste mesmo ano,
segundo dados da Direção Geral de Saúde (DGS) 3000 doentes foram assistidos por
estes motivos, consumos de álcool ou drogas. Convém salientar que o álcool
também é uma droga psicoativa e a mais perigosa. No mesmo relatório da DGS
sobre a morbilidade hospitalar no Serviço Nacional de Saúde, 2010, houve 3197
doentes a receber alta dos hospitais por uso de álcool e ou outras drogas e
perturbações mentais induzidas por estas substancias. Estes doentes representam
quase 40 mil dias de internamento durante um ano. Em relação a 2009
registaram-se 31 óbitos por consumo de álcool ou droga, mais 4000 dias de
internamento e mais 200 doentes observados por esta causa.
Definitivamente, “mais vale prevenir do que remediar”. A
saúde e a qualidade de vida das nossas crianças, tem estar acima dos interesses
económicos e dos lobbies. É preciso
que os decisores políticos, em conjunto com a sociedade civil, assumam a negligência
e mudem os paradigmas disfuncionais que reforçam o consumo, o abuso e as
dependências de substâncias psicoativas lícitas, incluindo o álcool e as
ilícitas, para depois não virem dizer que o Estado gasta não sei quanto milhões
de euros. Em relação ao assunto das dependências, se nada muda, a tendência é para
agravar.
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