quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Desigualdades sociais; a política, a economia e a prevenção das dependências




  • Segundo uma notícia divulgada no jornal Expresso, refere que Portugal ocupa uma das piores posições, comparativamente aos outros países da União Europeia (U.E.) sobre a justiça social. E como é que se mede? Pela pobreza, os cuidados de saúde e o acesso ao mercado de trabalho. O ranking foi publicado pela fundação alemã Bertelsmann que comparou vários indicadores estatísticos de cada país da U.E. concluindo que, nos últimos anos, a injustiça social tem vindo a aumentar em geral.
  • O Instituto Nacional de Estatística revela que segundo o Índice de bem-estar as famílias sentem-se mais vulneráveis a nível económico (por exemplo, diferenças salariais, menos rendimento).
  • Segundo um questionário realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra revela que 35% dos casais com filhos criam conflitos em torno de questões financeiras. Cerca de 80% referem que a crise afectou significativamente o orçamento familiar e mais de 25% procuram o médico por problemas emocionais, de ansiedade e insónia.
  • Segundo o relatório da Unicef revela que a recessão, desde 2008, contribuiu para o empobrecimento de 2.6 milhões de crianças (abaixo do limiar de pobreza) nos países mais ricos, aumentando assim para 76,5 milhões de crianças probres no Mundo desenvolvido.
  • Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2013 a pobreza atinguiu 30% das crianças portuguesas.
  • De 24 países analisados pela UNICEF, Portugal é o que apresenta maior taxa de pobreza das crianças, mesmo após a atribuição de subsídios.
  • Segundo uma revelação do Credit Suisse – “Global Wealth Report, 2014” Portugal tem mais de 10 mil milionários. Este relatório avalia os índices de riqueza no Mundo. Eis alguns números, preocupantes. Trinta e cinco (35) milhões de milionários (mais de 789 mil euros) representam 0,7 da população adulta, acumulam 44% da riqueza mundial. No sentido oposto, 3,3 mil milhões de pessoas vivem com menos de 7, 9 mil euros, representa 69,8% da população e apenas com 2,9% da riqueza mundial. Segundo o mesmo relatório, em Portugal, 10% dos mais ricos possuem 58,3% da riqueza (mais 2,3 pontos percentuais desde 2007).

Infelizmente, não é uma novidade, porque a sociedade portuguesa sempre foi marcada pela negativa quanto às desigualdades sociais; pobreza, injustiça social e desemprego. Também sabemos, pela experiência, que as crises acentuam o fosso entre ricos e pobres. São os ricos que beneficiam com a crise. As desigualdades sociais contribuem para prejudicar uns (pobres) e para beneficiar outros (ricos).
As desigualdades sociais, o fosso entre os ricos e os pobres, fomentam a pobreza, a injustiça social e o desemprego, fenómenos associados à venda (oferta) e o consumo (procura) de drogas ilícitas.

Alguns factores de risco associado às desigualdades sociais:
  • Comportamentos caracterizados por rebelião e alienação face às normas sociais instituídas.
  • Grupos que apresentam comportamentos relacionados com o abuso de drogas, lícitas e/ou ilícitas, ou comportamentos anti-sociais; actividades ligadas à delinquência.
  • Desorganização na estrutura familiar na gestão de problemas, atitudes parentais que oscilam entre a excessiva severidade, a inconsistência e a ausência de monitorização da disciplina nos filhos. Alguns exemplos, violência domestica, abuso físico, emocional e sexual.
  • Historial familiar com antecedentes de abuso e/ou dependência de drogas e actividades ilícitas. Estas famílias podem promover o consumo de drogas junto das crianças em idade pré adolescente.
  • Insucesso escolar, ausência de valores e competências sociais.
  • Acesso fácil (oferta/procura) às drogas lícitas, incluindo o álcool, e/ou ilícitas 


Algumas das crianças portuguesas, apesar de sonharem durante a infância, quando atingem a idade adulta não têm um futuro digno. 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Como comunicar com um filho adolescente, por Cristina Valente


Sosseguem, pais, não precisam de ter um Mestrado em Comunicação para conseguirem comunicar com o vosso adolescente! Mas algumas ideias preciosas (embora simples) podem ajudar!

As 6 Ferramentas “Carinho e Firmeza” são a solução para dar espaço a estes filhos que já não são crianças mas que ainda não são adultos…e para dar-lhes fronteiras, orientando-os ao mesmo tempo….

Empatia: lembre-se de usar a empatia. Quando o seu adolescente tiver feito alguma “asneira” diga-lhe algo como: “Que incrível! Como é que isso aconteceu? Se tivesse sido comigo eu teria ficado nervoso! E como é que te sentiste?”.

Encorajamento: em vez de dar sermões (aos quais o seu filho vai resistir!) e de derrubá-lo, encoraje-o: “Não sei exatamente o que fizeste. Podes ter feito uma coisa errada, mas continuas a ser o meu filho, uma boa pessoa e um ser humano cheio de valor”.

Perguntas sinceras: se os pais conseguirem fazer o mais difícil - não julgar, não culpar e não assumir que sabe o que ele pensa e, melhor, nem dizer-lhe o que ele deveria pensar…então estão preparados para adoptar uma técnica bastante eficaz: as perguntas sinceras. Chamamos-lhe “sinceras” porque os pais querem realmente saber o que se passou e entender a perspetiva do filho, mesmo que (e sobretudo se) for diferente da sua perspetiva de adulto.

As perguntas isentas de julgamento e que expressam um desejo sincero de compreender o ponto de vista do filho costumam “fazer milagres”! Perguntas como as seguintes, depois de o adolescente ter cometido algum erro, são verdadeiramente eficazes para criar proximidade entre pais e filhos: ”O que é que aconteceu? Em que é que estavas a pensar quando fizeste isto? Qual era o teu objectivo? Qual o significado que teve para ti? Qual foi a coisa mais importante que aprendeste com esta experiência? Como é que achas que podes lidar com uma situação destas no futuro?”

Partilhar experiências: os pais podem partilhar com os seus filhos algumas experiências da sua própria adolescência e com as quais tenham aprendido lições importantes: “Lembro-me de quando tinha a tua idade e…!”

Estabelecer limites inteligentemente: Quando os pais pretendem que os seus filhos pensem na forma como irão lidar com uma situação parecida caso aconteça de novo, podem dizer-lhes algo como: “Não sei o que aprendeste com esta situação ou de que forma irias lidar de uma forma diferente no futuro, mas isto assustou-me. Quis ajudar-te desta vez e ajudei-te. Mas quero que saibas que não me vou sentir bem se tiver que fazê-lo de novo. Portanto, quero dizer-te que caso faças essa escolha de novo, vou respeitar o teu direito de experimentares as consequências”.

Amor incondicional: amor incondicional por um filho é aquele amor que continuamos a sentir apesar dos erros que ele comete e apesar da decepção que esses erros nos provocam. É o  “vou amar-te para sempre, independentemente de tudo”.

Este cenário ilustra um apoio incondicional da parte dos pais e contribui para a aprendizagem de competências para a vida. Muito mais do que o castigo. Frequentemente, quando os adolescentes cometem erros, os pais castigam-nos.

Quando os pais castigam os seus adolescentes, em vez de apoiá-los, estão a pensar apenas nos seus próprios pontos de vista; não estão a considerar o mundo e as percepções dos seus filhos. A maioria dos adultos tende a esquecer-se dos seus tempos de adolescência. Os que se lembram, muitas vezes não compreendem como é diferente a vida para os adolescentes nos dias de hoje. Para além de que, ao castigar adolescentes, os pais perdem a oportunidade de ensinar-lhes a melhor forma de lidar com algo que vão encontrar sempre ao longo da sua vida  – erros.

Responsabilidade: no entanto, o amor incondicional não é o mesmo que tomarmos a responsabilidade pelos erros dos filhos: “Vou amar-te para sempre, independentemente de tudo…mas é tua responsabilidade resolveres os problemas que surgem dos erros que cometes. Apoio-te, mas és tu quem os resolve.

O valor dos erros: os erros provam que os nossos filhos estão a tentar. A tentar viver. A tentar aprender. A tentar ser adulto…Lembre-se: uma vez cometido o erro, este não pode ser desfeito. O adolescente pode ser capaz de aprender algo com o erro ou resolvê-lo, mas não vai ser capaz nunca de desfazê-lo. Contudo, o processo de aprendizagem e resolução pode ser tão valioso, que as situações e as relações podem tornar-se ainda melhores devido a um erro. Quando nos focalizamos no erro em vez de nos preocuparmos com o que podemos aprender com isso, estaremos a desperdiçar grandes oportunidades de aprender e de crescer.

Para terminar, lembre-se também: o seu filho não é um adulto crescido. O seu filho está a crescer!...


Cristina Valente
Psicóloga (Coach Parental), Autora e Mentora de Famílias de Sucesso em Projectos de Home Business
Telefone: + 351 93 930 05 99
Skype ID: cristina.valente66

Comentário: Gostaria de agradecer a colaboração da Dr. Cristina Valente no "Mais Vale Prevenir Do Que Remediar". Actualmente, neste mundo imprevisível, como pais, conseguir comunicar com os nossos filhos representa um serio e complexo desafio, todavia porém, o desafio poderá ser mais simples, do que imaginamos se dedicarmos tempo, disponibilidade, empenho e conseguirmos ser uma referencia positiva a fim de que eles consigam orientar as suas vidas.  
Aos nossos adolescentes, devemos incutir, desde cedo e ao longo do seu desenvolvimento, valores que contemplem a honestidade, a autonomia, o talento, a auto estima (amor próprio, não me refiro ao culto do ego), a solidariedade e uma vida resiliente com um propósito. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Como pensar com opções criativas

Tradução: “ As crianças devem ser ensinadas; como pensar em vez de sobre o que pensar.”

Precisamos de criar uma nova forma de expressão e uma identidade cultural que seja coerente com o propósito da vida, baseado em convicções e valores imateriais e universais.

Precisamos de pensar fora da "caixa" - forma retrograda de viver dentro do "velho" sistema disfuncional e proporcionar aos nossos filhos as competências necessárias na gestão das emoções, na clarificação de valores, livres de vergonha e do sentimento de culpa, que promovam a felicidade, a gratidão e a ajuda mutua. Precisamos de (re)inventar, conectar e encontrar sinergias com base na arte de bem-viver- estilo de vida saudavel.

Numa sociedade imprevisível e consumista, como pais, cabe a nós, orientar e estimular o pensamento criativo, a imaginação, o sonho e o propósito dos nossos filhos. Se nós, adultos possuirmos valores, os nossos filhos também serão crianças com valores.



quarta-feira, 27 de agosto de 2014

21ª Dica Arte Bem Viver, de 14/08/2011




Olá
O que é que o nosso legado familiar nos transmite sobre a forma como gerimos a dor? Aquilo que somos e fazemos depende muito da história (tradição) da nossa família. Na idade adulta, como aprendemos a gerir - “modus operandi” - a dor? Sabia que é a partir da infância que aprendemos acerca da importância da programação da dor e do prazer na vida (equilíbrio).

É do senso comum que a dor faz parte do desenvolvimento das nossas competências e talentos, todavia, fugimos dela; negando, iludindo, justificado e racionalizando. Este mecanismo, natural e humano, mas complexo e delicado, pode ser potenciador para o nosso investimento, serio e prioritário, no prazer imediato.

Quanto maior for o investimento, que façamos no prazer; menor a capacidade crítica que desenvolvemos sobre a importância da dor no nosso desenvolvimento emocional e espiritual (equilíbrio). Ao agirmos no prazer imediato, na busca da gratificação e do reconhecimento, podemos negligenciar e interferir, negativamente, na programação da dor e do prazer. Podemos confundir necessidades (prioridades) com vontades (desejos). Queremos as coisas já… 

Por vezes, recorremos às pessoas e às coisas materiais como uma tentativa para preencher o vazio emocional, de forma a suavizar as emoções dolorosas (ex. procurar uma imagem perfeita, controlar as mudanças do humor), todavia e nesse sentido, monitorize, o mais honestamente possível, o padrão de comportamento. Confie na sua intuição, pratique a reflexão e a introspecção

“It only looks like the good life” Autor desconhecido

Votos de uma semana equilibrada; entre a dor e o prazer!

Comentário: Sabia que a Dica Arte de Bem-Viver começou com uma "brincadeira" para os amigos, em Abril de 2011? Atualmente é enviada para mais de 500 pessoas e vários países de expressão portuguesa (Portugal, Angola, Moçambique e Brasil) e para os Estados Unidos da América. À data deste post vai na sua 179ª publicação. Caso deseje receber a Dica Arte Bem-Viver (semanal) basta enviar um email para joaoalexx@sapo.pt. No assunto da mensagem escreva: Dica Arte Bem-Viver. Todos os dados são confidenciais. É grátis. Mais Vale Prevenir Do Que Remediar.




quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Pratique uma alimentação saudável e diversificada



 Importante: O video contem cenas que podem ferir algumas pessoas mais susceptíveis.
Pratique uma alimentação saudavel e diversificada a sua saude agradece. 

O ciclo da vida é um processo continuo mas composto por varias fases.


Legenda: “Digo Não e é Meu porque estou a crescer e a aprender a ser eu próprio, em vez de ser considerado um fedelho egoísta. “

Comentário: Desde que nascemos até morrermos, o ciclo da vida caracteriza-se, pelo desenvolvimento do individuo, através de diversos estágios bem definidos – infância, adolescência, adulto e idade sénior. Cada um destes estágios serve um propósito específico, a fim de que cada fase seja executada na sua plenitude.

Ainda não há muitos anos, em meados dos anos 70 e 80, as crianças que não se adaptavam ao contexto escolar ou que os pais não tinham recursos económicos e financeiros eram obrigadas a trabalhar. 


Saiba mais:  Positive Parentig Connection  

quarta-feira, 30 de julho de 2014

As pessoas mais felizes gostam de pessoas



Somos mais parecidos uns com os outros do que aquilo que imaginamos. As pessoas mais felizes gostam de pessoas

sábado, 5 de julho de 2014

Uma triangulação polémica entre pais e filhos


Um grupo de alunos da Universidade Católica de Lisboa - Faculdade de Ciências Humanas envolvidos num trabalho para a disciplina de Métodos e Técnicas de Investigação em Ciências Sociais, com a professora doutora Teresa Líbano, convidou-me para participar no seu trabalho sobre o fenómeno das drogas e dos consumidores em Portugal. 

De acordo com a minha experiencia profissional, a grande maioria dos pais lida, atrevo-me a acrescentar, reage mal quando descobrem que o filho/filha consome drogas. Quando descobrem, os comportamentos dos pais, oscila entre as ameaças verbais e os castigos desproporcionados e a passividade, a complacência e a impotência. Estes comportamentos disfuncionais revelam uma ausência de um plano ou uma estratégia sobre a temática das drogas ilícitas. Saiba mais (siga o link) Pais, filhos e as drogas 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A prevenção é um projecto familiar


A prevenção das dependências de todo e qualquer tipo de drogas lícitas, incluindo o álcool, e as ilícitas é um tema transversal na sociedade actual. Qualquer pessoa, independentemente, do seu estatuto social, idade, raça, sexo ou religião está vulnerável em relação ao consumo, ao abuso e à dependência de substâncias psicoactivas do sistema nervoso central.

Apesar da prevenção das dependências ser um tema actual e preocupante, em particular entre pais, famílias, escolas, professores e jovens, e na sociedade em geral, todos nós, profissionais e pais lutamos contra o estigma, a negação e a vergonha associados às drogas reforçado pelo preconceito e o estereótipo. Muitas vezes, refiro-me a este exemplo, quando abordo o tema nas escolas e/ou com os pais, são unânimes em reconhecer a vulnerabilidade das crianças em relação a este problema e a necessidade de programas, mas quando são convidados a «dar a cara», aparentam optar, conscientemente pelo silêncio devido ao tabu, preconceito e estereotipo. Creio que um dos motivos deste afastamento está relacionado com o estigma, a negação e a vergonha sobre as drogas: “Os meus filhos nunca na vida irão tornar-se uns drogados ou uns bêbados.” A maioria de nós, pais e famílias, inconscientemente, justificamos este raciocínio; “Estes problemas dramáticos só acontecem aos outros. Estas tragédias só acontecem às famílias desestruturadas, disfuncionais e sem recursos económicos.” Nos dias de hoje, este tipo de justificação negligente do qual nos socorremos para enterrar a cabeça na areia e considerarmos que a nossa família não é desestruturada ou disfuncional, como as outras afectadas pela dependência, pode revelar-se a médio e a longo prazo, um erro grave, porque na realidade e para sermos verdadeiramente honestos, sentimo-nos impotentes, porque não possuirmos um plano ou uma estratégia concreta sobre esta matéria.

Há vinte anos atrás, no final dos anos 80, início dos anos 90, o jovem que desejasse consumir drogas ilícitas revelava-se uma tarefa difícil obtê-las, hoje em dia, qualquer criança ou adolescente, através da internet, na sua casa e junto aos seus pais, pode ter acesso a qualquer tipo de drogas. A procura supera a oferta de drogas, existem drogas para todo o tipo de preferências e tendências.  No contexto profissional, conheço inúmeros adultos, afirmam, as primeiras experiências com drogas, enquanto crianças e adolescentes, foram com medicamentos dos seus familiares

Alguns dados interessantes
Segundo o relatório das comissões de protecção de menores os processos instaurados em 2013 (30.344) aumentaram comparativamente a 2012 (29.149). Aumentaram também os processos reabertos, num total de 7402 e são o dobro das crianças abandonadas. Apesar de até aqui o escalão com maior representatividade, fosse o dos 0 aos 5 anos, em 2013, o escalão com maior representatividade foi o dos 15 aos 18 anos. A exposição a comportamentos, por parte dos adultos, que podem comprometer o desenvolvimento da criança: a violência domestica (agregado familiar), a negligência familiar, a falta de cuidados de saúde, falta de apoio psicoafectivo, a indiferença, os maus tratos físicos.

Após constatarmos estes factos, encontramos motivos, suficientemente fortes para os pais ponderarem sobre a prevenção das dependências desde o berço da criança, ao invés de ser na pré adolescência, nessa altura, pode ser tarde demais. A prevenção das dependências é um projecto da família.

A prevenção das dependências deve ser um projecto delineado 1. Pais 2. Escola e 3. Sociedade.  
O papel da família é importante na prevenção das dependências desde o nascimento da criança. Antes de a criança nascer, a família é um sistema complexo de personalidades e dinâmicas, individuais e colectiva, refiro-me aos papéis, às regras, às funções e convicções que regem a estrutura familiar no seu todo. A personalidade da família revê-se nos padrões e nas espectativas, nos sentimentos, pensamentos, nas suas crenças e tradições. O nascimento de uma criança vem modificar este sistema. 

 Se um membro da família tem um problema ou doença, esta situação dramática não afecta somente o individuo (doente), pelo contrário, todas as pessoas são afectadas, incluindo as crianças. Refiro-me a todo o tipo de adversidade, desde as doenças, acidentes, crise, desemprego, divórcio, adultos dependentes de drogas e/ou álcool, e/ou desilusões e fracassos oriundos dos projectos individuais, profissionais e económicos dos adultos. Nesse sentido, é durante a fase da socialização que surgem os desafios mais complexos na educação da criança, visto nenhuma família estar a salvo da adversidade. Como adultos sabemos, pelos motivos mais evidentes e dolorosos ao longo do devir, que a vida é difícil. Agora, como é que integramos esta questão existencial no plano de educação do(s) nosso(s) filho(s)? Como é que o(s) preparamos para enfrentar a adversidade?

Uma das respostas, residem no meu entender, com as nossas características individuais e sociais, como pais e indivíduos. Ao longo da vida, geramos aquilo que consideramos merecer e essa atitude também se reflecte na família; se considerarmos que somos indivíduos resilientes na gestão da adversidade e dos sentimentos, se considerarmos que somos indivíduos felizes, se possuirmos um propósito e sentido no rumo da vida, a nossa família, também irá colher estes frutos que a sustentaram nos momentos difíceis, caso contrario, se nos considerarmos indivíduos egocentristas e hedonistas, com baixa auto estima, ressentidos e umas vitimas das pessoas e do mundo, estaremos a minar nossa família. É imprescindível que sejamos honestos connosco próprios, a fim de consigamos monitorizar os efeitos e o impacto do nosso comportamento na família, incluindo das crianças. Se o fizermos estaremos a garantir zelo pela estrutura (sistema) familiar. Sabia que uma parte muito significativa do nosso comportamento, para com a família nuclear (esposa/o e filhos), é herdado dos nossos pais, avós ou outras pessoas significativas? Refiro-me às tradições, aos valores e convicções e à vinculação.  Podemos transportar uma herança familiar dolorosa de abuso ou negligência que poderá afectar a vinculação com os nossos filhos e podemos encontrar dificuldades em desempenhar a tarefa de educar e ao mesmo tempo, ser felizes. A nossa educação parental assenta em modelos que conhecemos e nos são familiares. Quais são as regras que nos ensinam para educar os nossos filhos? Ainda recorremos a um método que se resume a experimentar, através da tentativa e erro, isso significa que não dispomos de informação, assim como, aquela informação que possuímos pode estar errada.
 
Por outro lado, sabemos que para se ser uma família feliz, não é preciso ter tido uma educação fora de serie e/ou um possuir estatuto social elevado, basta assumir um compromisso honesto, devotado ao amor e dar o melhor possível.

Um pai e uma mãe comprometida com a educação e a família na prevenção das dependências:
- Dá o exemplo, exerce disciplina (não é ser amigo/a do filho, ele já tem amigos suficientes, os filhos precisam de um mentor e de um/a coach),
- Negocia e comunica o mais abertamente possível sem tabus,
- Desenvolve a resiliência, ajuda os filhos a fazer a auto-regulação dos seus sentimentos dolorosos em vez de satisfazer as suas vontades e os ímpetos da criança porque se sente culpada/o e não consegue dizer Não,
- Ensina a controlar o comportamentos e reforça valores e tradições saudáveis,
- Reforça a auto conceito e a auto estima, não me refiro ao culto do ego ou da imagem.
- Promove uma vinculação com base no encorajamento, no amparo, na pertença e na aceitação (amor).
 
Já referi esta afirmação várias vezes, na prevenção das dependências é urgente uma revolução no sistema e no paradigma actual, nos políticos, nos líderes, nas instituições, famílias e profissionais que zelem e se comprometam pelo futuro dos nossos filhos, porque o mundo dos adultos não é seguro para algumas crianças vulneráveis. Se conseguirmos educar os nossos filhos, se conseguirmos que eles possuam as competências e o talento necessário a fim de usufruírem uma vida plena, teremos conseguido com sucesso a nossa missão, aquela que considero ser a mais altruísta e abnegada de todas, ser pai ou mãe.

Se não formos nós, pais e família, a abordar o tema da prevenção das dependências e do consumo de drogas lícitas, e/ou ilícitas, outras pessoas, que não amam os nossos filhos como nós próprios, vão faze-lo.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Abraçando a imperfeição


«Quando eu era criança, a minha mãe gostava de fazer, de vez em quando, um lanche à hora de jantar. Lembro-me especialmente de um desses lanches, feito por ela após um dia de trabalho muito cansativo.
A minha mãe colocou um prato com ovos, linguiça e torradas na mesa, diante do meu pai. As torradas estavam bastante queimadas e eu recordo-me de ficar à espera de que alguém reparasse nesse pormenor. O meu pai pegou numa torrada, sorriu para a minha mãe e perguntou-me como tinha corrido o dia na escola.
 Não me lembro da resposta que dei, mas lembro-me do gosto com que ele comeu aquela torrada, depois de a barrar com manteiga e compota. Quando saí da mesa, a minha mãe pediu desculpa ao meu pai pelas torradas queimadas. Ouvi-o responder:
— Não te preocupes, querida. Eu adoro torradas queimadas.
Quando, mais tarde, fui dar um beijo de boas-noites ao meu pai, perguntei-lhe se tinha gostado realmente da torrada queimada. Respondeu de um forma que nunca esquecerei:
— Filho, a tua mãe teve hoje um dia de trabalho muito cansativo e estava exausta. Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida está cheia de imperfeições e não há pessoas perfeitas. Eu também não sou um cozinheiro perfeito e nem sequer um funcionário perfeito…
 Ao longo dos anos, tenho constatado e aprendido que, uma das chaves mais importantes para estabelecer relações saudáveis e duradouras, é saber aceitar as imperfeições dos outros.»


Autor Desconhecido

terça-feira, 13 de maio de 2014

38ª Dica Arte Bem-Viver de 11/12/2011


Olá

Em algumas Dicas Arte Bem-Viver procuro dar especial ênfase à importância dos relacionamentos significativos e dos princípios que sustentam esses elos frágeis, mas resilientes, por ex. a honestidade, a empatia, a responsabilidade, assertividade, o compromisso, a confiança, intimidade. Ao longo da vida criamos um Sistema de relacionamentos, uns mais significativos que outros, visto a nossa sanidade mental depender deles.

Um sistema consiste num conjunto de factores interligados de modo a formar um todo organizado. Qualquer tipo de sistema serve um determinado objectivo. No sistema de relacionamentos existe um conjunto, complexo e delicado de factores que geram um fluxo de energia e um equilíbrio, idêntico a uma dança. Por exemplo, porque é que mantemos um relacionamento íntimo e honesto, com uma pessoa, durante vários anos enquanto com outra pessoa diferente, resume-se a poucas semanas? Todavia, podemos escolher os amigos, mas não escolhemos a família.

1. No sistema de relacionamentos é normal existir crises ou separações. Os sentimentos de dor inerente à crise ou à separação serão mais valorizados se encontrar um sentido/propósito, visto identificar as competências e os recursos necessários através da adversidade.

2. No sistema de relacionamentos é mais importante saber quando é que uma crise pode ocorrer, do que preocupar-se, se a crise vai surgir ou não, antecipando cenários catastróficos.

3. No sistema de relacionamentos é essencial a comunicação honesta, quer seja durante as crises ou não. Fomente a flexibilidade das ideias, a melhor maneira para o conseguir é parar de falar e começar a ouvir.

4. No seu sistema de relacionamentos seja comunicativo. É normal haver diferenças de ideias e de opiniões, diferentes experiencias. Invista nos interesses em comum, dos relacionamentos, em vez das posições individuais. Não perca demasiado tempo a discutir problemas, centre-se nas soluções.

5. No seu sistema de relacionamentos seja comunicativo não tolere a violência física, emocional, agressões verbais, humilhações ou qualquer outro tipo de maus tratos.

 Lubrifique o seu sistema de relacionamentos significativos e faça a manutenção.

Votos de uma semana comunicativa e re-invente-se nos relacionamentos.

Cumprimentos

Comentário: Sabia que a Dica Arte de Bem-Viver começou com uma "brincadeira" para os amigos, em Abril de 2011? Atualmente é enviada para mais de 500 pessoas e vários países de expressão portuguesa (Portugal, Angola, Moçambique e Brasil) e para os Estados Unidos da América. À data deste post vai na sua 164ª publicação.

Caso deseje receber a Dica Arte Bem-Viver (semanal) gratuitamente, basta enviar um email para joaoalexx@sapo.pt. No assunto da mensagem escreva: Dica Arte Bem-Viver.

As pessoas mais felizes gostam de pessoas. Mais Vale Prevenir Do Que Remediar
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sábado, 12 de abril de 2014

Verdadeiro ou Falso?


Em Portugal, o fenómeno do consumo de drogas ilícitas evolui significativamente, a partir do final dos anos 70 e princípio dos anos 80, nesse sentido, alguns pais que durante a adolescência consumiram drogas socialmente, podem erradamente negligenciar sinais e sintomas da dependência nos seus filhos. Alguns relatos de pais:  "Eu também usei drogas, mas nunca tive problemas de dependência, e quando soube que o meu filho, também consumia, presumi, erradamente, que ele nunca iria desenvolver uma dependência. Quando o confrontei com o assunto, já foi tarde demais. Ele estava dependente."  

Sabe porque é que os adolescentes consomem drogas ilícitas? Por curiosidade, desafiar o perigo, para relaxar, para quebrar o tédio, o aborrecimento e para se integrarem num determinado grupo de pares. De início o consumo de drogas é frequentemente associado ao lazer e ao convívio. Algumas pessoas, mais vulneráveis, prolongam o consumo; aumentam a frequência, a duração e a intensidade.

Alguns factores que contribuem para a dependência de drogas no individuo. 
1. Usar drogas antes e durante a adolescência. 
2. Trauma: Abuso emocional, físico e/ou sexual 
3. Historial de dependência de drogas na família. Apesar de não existir consenso entre investigadores sobre os factores genéticos, uma criança que testemunhe consumo ou abuso de drogas, por pessoas significativas, pode crescer com a crença de que usar drogas é OK.

Se você tem filhos adolescentes sabia que as probabilidades de eles um dia consumirem drogas são reais? Eles podem parecer, de acordo com a sua avaliação, indivíduos que sabem o que querem da vida e seguros das suas decisões, mas o seu cérebro ainda não totalmente desenvolvido e isso significa que a capacidade de avaliar e tomar decisões seja diferente daquela que você pensa que eles têm na realidade.

Um dos motivos pelas quais, a maioria dos pais, reage com indignação, negação e/ou pânico quando toma conhecimento de que um dos seus filhos é consumidor de drogas ilícitas está relacionado com a seguinte crença:
Mito: O problema das drogas e as dependências só acontecem aos outros.
Realidade: Um individuo que deseje consumir drogas não precisa de fazer um grande esforço/sacrifício para satisfazer a sua vontade. A oferta das drogas supera a procura.

A cultura associada às drogas ilícitas, o canábis, que promove o consumo, como “droga leve” desvaloriza e nega a investigação cientifica e o conhecimento empírico dos profissionais que trabalham na área das dependências. Parte dessa cultura está assente no lucro, em detrimento da saúde das pessoas. Segundo algumas previsões, nos EUA, sobre os lucros da venda legal de canábis rondam os 3 mil milhões de dólares. Em Portugal, não existe maturidade política e legislação que monitorizem os efeitos da publicidade (técnicas agressivas de marketing) e salvaguardar o direito do individuo à informação, à prevenção e ao tratamento do impacto das drogas na saúde, incluindo o apoio às famílias afectadas pelas consequências negativas, incluindo as crianças. Podemos retirar um exemplo do fenómeno em relação ao álcool. O álcool, como se sabe, é um problema de saúde pública, todavia, os lucros da indústria do álcool (milhões de euros) e os interesses (lobbies capitalistas) estão acima do direito das pessoas – saúde. De acordo com a minha opinião, infelizmente o mesmo fenómeno irá acontecer com venda e o consumo da canábis. Nos últimos dez anos, os casos de indivíduos que procuram ajuda profissional, derivado ao consumo excessivo de canábis (marijuana e haxixe), tem aumentado significativamente.

Sabia que o consumo de canábis, vulgo marijuana (planta) e haxixe (resina), em doses elevadas podem conduzir a situações de elevada ansiedade, pânico e até a episódios de esquizofrenia. É um mito e errado classificar estas substâncias psicoactivas, como drogas leves. De acordo com o seu conhecimento, o álcool é uma droga «leve» ou «dura»?

«O consumo excessivo de canábis não mata, mas pode conduzir à loucura.»

sábado, 8 de março de 2014

36ª Dica Arte Bem-Viver de 27/11/2011


Olá
Perante o fenómeno complexo das relações interpessoais, no dia-a-dia, a comunicação honesta e assertiva assume um papel de destaque que necessita de uma actualização constante das nossas competências.

- Na comunicação procure dar prioridade em compreender o ponto de vista da outra pessoa, antes mesmo que expor o seu. Erradamente, revelamos demasiada preocupação em expor o nosso ponto de vista, e só depois entender o ponto de vista do outro. Se estiver realmente interessado/a em aprofundar o assunto em questão, invista na arte de fazer perguntas importantes. Oiça aquilo que é dito, não aquilo que você pensa que é.
- Na comunicação seja zeloso para com os compromissos que assume. Não existe maior desilusão quando alguém promete algo e depois não cumpre. Seja honesto/a consigo, e se verificar que não consegue cumprir os compromissos, não os assuma. Simplifique, evite ser agrador/a.
Votos de uma semana produtiva na comunicação interpessoal

Cumprimentos

Comentário: Sabia que a Dica Arte de Bem-Viver começou com uma "brincadeira" para os amigos, em Abril de 2011? Atualmente é enviada para mais de 500 pessoas e vários países de expressão portuguesa (Portugal, Angola, Moçambique e Brasil) e para os Estados Unidos da América. À data deste post vai na sua 154ª publicação.

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sábado, 25 de janeiro de 2014

Como não avançamos a tendência é para cristalizar


Em pleno seculo XXI, a prevenção das drogas em Portugal ainda é um mito.
Você considera que a nossa cultura reforça a prevenção das dependências? Na minha opinião, a resposta não é fácil, mas creio haver necessidade de uma revolução, porque as dependências de substâncias psicoactivas licítas, do Sistema Nervoso Central, incluindo o álcool e as ilícitas, são uma epidemia e representam um problema de saúde pública com custos elevadíssimos. Caso não se tomem as devidas precauções a tendência é para se agravarem visto negarmos esta realidade. E enquanto for negada vai assumindo proporções epidémicas. Só para se ter uma ideia, o álcool é a droga mais perigosa, comparativamente a todos as outras,por ser ser aceite socialmente.

Segundo Edward B. Tylor cultura é «Aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade.» A sociedade somos nós.

O fenómeno tende a alastrar-se
Desde o princípio dos anos 80, após a revolução do 25 de Abril de 1974, não existe uma política que contemple um plano de prevenção das dependências direccionado para os jovens, pais e escolas. Não existe uma cultura de investigadores, de educadores, de instituições e profissionais e de pais que assumam um compromisso sobre a prevenção. Outra situação idêntica, educação sexual inexistente nas escolas. Se o ser humano pratica sexo há milhares de anos, qual é o problema abordar o tema abertamente? São os mitos? Os preconceitos? Ou outra razão que eu desconheça? O mesmo acontece com o álcool e outras drogas. Se o ser humano sempre consumiu drogas, desde os primórdios da humanidade, qual é o problema em abordar o tema abertamente?

Se o ser humano sempre consumiu drogas, a partir dos anos 60, este fenómeno assumiu proporções epidémicas em todo o mundo. O mundo das drogas (produção, trafico, consumo e a dependência) é complexo, mas também precisamos de admitir que o contexto social tem sido terreno fértil para a sua propagação. Existe uma cultura (moda) que procura sensações fortes de prazer e bem-estar a fim de descomprimir das tensões, do tédio e que visa acabar com o sofrimento através de drogas, incluindo a auto medicação, substâncias sujeitas a prescrição medica (por exemplo, os ansiolíticos). Existem drogas diferentes para todos os tipos de preferências, tendências, contextos e estatuto sociais, a procura supera a oferta; estão criadas as condições para um negócio lucrativo. O tráfico, o consumo ocasional, o abuso e a dependência são uma indústria com lucros muito significativos. Estima-se em 160 mil milhões de dólares, oriundos do narcotráfico, anualmente, lavados na banca internacional. O negócio global de muitos milhões de dólares, dinheiro sujo das drogas, é constituído por um sem número de parceiros, interesses e «fiéis» colaboradores que ajudam a sustentar a economia global. É um círculo vicioso.

A prevenção das dependências de drogas, incluindo o álcool, começa no berço.  
Em Portugal, a prevenção das drogas nunca foi uma prioridade para os decisores políticos, apesar de os candidatos às eleições visitarem instituições, para pessoas com problemas com drogas, somente para angariarem votos e fazerem promessas que depois não cumprem. Por exemplo em relação às drogas ilícitas, os líderes políticos centram o combate no tráfico, recorrendo às forças policiais. Esta estratégia não visa a prevenção, e está provado que não surte efeito. Prende-se um traficante, imediatamente este é substituído por mais dois ou três. Alguns países da Ásia, ainda aplicam a pena de morte aos traficantes, mesmo assim, este tipo de leis não conseguem erradicar o tráfico de drogas naqueles países. 

Como referência de mudança de mentalidades e cultura, após o 25 de Abril de 1974 e o boom das drogas ilícitas (por exemplo, refiro-me ao canábis, à heroína e à cocaína), passados 40 anos, actualmente algumas pessoas ainda consideram «os drogados» uns criminosos e marginais que deviam ir presos. As prisões não tratam as dependências. Alguns pais ainda adoptam a estratégia de prevenção, em relação aos filhos adolescentes, afirmando «Se tocas em drogas, esquece que sou teu pai», as ameaças ou a agressividade nunca funcionaram, muito menos nos dia de hoje, enquanto outros pais, creio serem em maioria, optarem pelo silêncio. Desde 1974 até 2014 quais são as diferenças culturais que contemplam a prevenção das dependências? Ao longo dos últimos 40 anos quais foram as lições que aprendemos sobre a prevenção das dependências? Desde os anos 80, e após os avanços tecnológicos nos anos 90, continuamos a ter pânico que os nossos filhos se tornem dependentes de drogas e ou álcool, como se fosse um vírus, mas na realidade, pouco fazemos para mudar esse cenário assustador. Negamos as evidências, com a agravante de ainda acreditarmos que esse tipo de problema só acontece aos outros. Paradoxalmente, recordo conversas com pais, políticos, professores, médicos, onde o tema central é a prevenção, e todos são unânimes “ É urgente fazer qualquer coisa.” Falta passar das palavras aos actos. O estigma, a negação e a vergonha relacionado com as drogas interferem na prevenção das dependências. Isto é, sabemos que o problema subsiste, mas negamos os factos.

Actualmente, relativamente à educação dos filhos, uma grande parte dos pais tem sentimentos de culpa, porque considera que falharam em algo. Surpreendentemente, o sentimento de culpa já existia antes mesmo de ser pai ou mãe, já existia na família, na educação, no emprego ou carreira profissional. Delegamos à escola e à sociedade, essa tarefa complexa da educação, porque como pais, não possuímos disponibilidade para o fazer. Quando alguma coisa corre mal, imediatamente apontamos o dedo e arranjamos um culpado. Não iremos resolver as questões mais complexas encobrindo aquilo que realmente precisa de ser feito procurando culpados. Oiço muitos pais afirmarem “ Ser pai/mãe é difícil. Não existe um livro que nos ensine a educar os nossos filhos.» Eu acrescento, se existisse o tal livro, não tínhamos tempo para ler. Andamos numa correria, sem ter um propósito concreto. Como pais ansiamos que a educação que incutimos nos nossos filhos resulte. Paralelamente, também ambicionamos ideais de grandeza e sucesso para eles, mas por outro lado, como educadores sobrevivemos como podemos a acontecimentos que colocam em risco a segurança e a pertença (amor). Existe um sentimento geral de impotência perante o poder económico, a crise financeira e social (injustiça, as desigualdades, o desemprego, a precariedade). Será honesto e legitimo ambicionar ideais de grandeza e sucesso, para os nossos filhos, quando na realidade, como pais sentimo-nos culpados e impotentes perante a sociedade consumista e hedonista? Perante a sociedade, queremos ser mais inteligentes, mas não somos. Queremos ser mais ricos, mas não somos. Queremos ser mais felizes, mas não somos. Queremos um futuro para os nossos filhos, mas não sabemos como orienta-los - qualquer coisa que possamos fazer, nunca chega e nunca é suficiente, é preciso mais e mais.

É do conhecimento geral, e reforçado pelos estudos, que a pré-adolescência é o período critico em que os jovens iniciam as suas primeiras experiências com as drogas; primeiro com o tabaco, depois o álcool, de seguida, outras drogas ilícitas. Sabendo deste fenómeno e os custos elevados, quais são as estratégias de prevenção adoptadas para o período pré-adolescência/infância? Quais são as estratégias de prevenção do binge drinking, beber álcool cujo intuito é a intoxicação/embriaguez? Do tabaco? Do consumo das drogas ilícitas? Da condução sob o efeito do álcool? Da gravidez indesejada? Do suicídio? Da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis?
   
Alguns dados
  • Outro fenómeno preocupante são as novas drogas legais. Sabia que até Abril 2013 foram identificadas 105 novas drogas legais. O consumo de droga, incluindo o álcool, é uma das principais causas de morte entre os jovens na Europa, refere o Relatório Europeu sobre Drogas 2013, divulgado em Lisboa pela agência europeia de informação sobre este problema (EMCDDA).
  • Em Junho de 2011 a Comissão Global de Política de Drogas afirmou: "A guerra global contra as drogas falhou, com consequências devastadoras para indivíduos e sociedades pelo mundo. Cinquenta anos após o início da Convenção de Narcóticos da ONU, e anos depois do presidente Nixon ter lançado a guerra contra as drogas, reformas fundamentais no controlo global de drogas a nível nacional e internacional são urgentemente necessárias"
  • A indústria do álcool, através do recurso a técnicas agressivas de marketing,  da comunicação social e dos lóbis insistem em associar o consumo de bebidas alcoólicas e o desporto. Por exemplo, colando marcas de bebidas alcoólicas à selecção portuguesa de futebol e à Liga de Futebol. Na minha opinião, é inadmissível e são incompatíveis; não colam. O desporto e as drogas não são compatíveis. O álcool é uma droga lícita, tal como o tabaco. Esta situação só é possível graças aos milhares de euros, aos lobis e outros interesses. Causa-me consternação, agravada com a conivência das autoridades, existirem empresas e pessoas, membros de família e com filhos, que dedicam horas, dias e meses do seu trabalho a elaborar estratégias (marketing  agressivo) que visam o consumo de álcool direccionado para os jovens.
  • Segundo um inquérito aos alunos da Universidade de Lisboa (UL), resultado de uma parceria entre a UL, o Conselho Nacional de Juventude e o Serviço de Intervenção em Comportamentos Adctivos, afirma que 40% dos alunos do Superior já experimentaram drogas. Canábis lidera os consumos, seguido pelas smart drugs, anfetaminas e cocaína. 36,2% dos jovens que bebem álcool fizeram-no pela primeira vez antes dos 15 anos.
  • 01/12/2013 Reportagem no Jornal de Noticias: “100 mil pessoas na rua naquela que é a noite mais longa em Guimarães. Recorde álcool no pinheiro Nicolino. (…) O que não se esperava é que os Bombeiros de Guimarães tiveram tanto trabalho no transporte de nicolinos alcoolizados. Foram 26 internamentos por princípio de coma alcoólico ou mesmo efectivado. O maior numero de sempre, sendo que no ano passado foram 17.”
  • O Epiteen estudo realizado, pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, ao longo da última década, a quase três mil jovens, todos nascidos em 1990 e alunos nas escolas públicas e privadas do Porto, que avaliou os participantes aos 13, aos 17 e aos 21 anos revela relação de violência na adolescência com agressões mais tarde. 77% dos jovens afirmaram experimentar drogas por curiosidade. Canábis lidera os consumos, seguido pelo álcool e tranquilizantes. Segundo os jovens (24%) a escola é o local onde é possível obter o canábis.
  • Anúncios entre programas de televisão infantis. Segundo o Conselho Económico e Social Europeu defende a erradicação total da publicidade nos intervalos de programas infantis, de forma a evitar outros efeitos, o aumento do «bullying de marca».
  • Notícia do Jornal de Noticias: «Filhos dos pobres não conseguem fugir da pobreza. Portugal é dos países onde é mais difícil quebrar ciclos de pobreza entre gerações muito por causa da imobilidade educativa: pais pouco instruídos têm, sobretudo, filhos também pouco instruídos. Situação educativa e económica das famílias é determinante para o futuro dos filhos.»
  • «A pobreza é como que hereditária” Eurostat, dados de 2011.
  • Segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, registou 261 mortos, entre a população jovem, com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos de 2010 a 2012. O álcool está associado à mortalidade rodoviária entre os jovens.
  • De acordo com um testemunho de um jovem de 24 anos, acerca da condução sobre o efeito do álcool afirmou: «É normal, já estou habituado.»
  • As campanhas de sensibilização sobre os perigos da condução sobre o efeito do álcool não são suficientes. O objectivo das campanhas estão direccionadas para o comportamento do individuo, visando desresponsabilizar, os decisores políticos e a indústria do álcool. Quantas mortes são necessárias para inverter esta politica de negação? 

Já diz o ditado popular «Mais vale prevenir do que remediar» e na prevenção das dependências urge uma revolução.