Nos últimos dias, determinado assunto tem gerado debate na imprensa, refiro-me à polémica sobre o encerramento de
centenas de escolas no país. A forma como a discussão está a ser conduzida,
pelos adultos, está a assumir dimensões preocupantes, interferindo no bem-estar
dos alunos (crianças). Refiro-me aquelas crianças afectadas directamente,
como para a grande maioria dos alunos portugueses. Mais um caso concreto a juntar a muitos outros, onde os direitos e interesses educativos das crianças são negligenciados.
Aquilo que realmente interessa e que tem merecido a atenção dos adultos é orçamentos
e despesas (números). Quando se discutem números, o caso da criança que se chama Maria, ou o Marco, a Anabela ou o Fernando são ignorados. Para se ter
uma noção das crianças envolvidas, segundo o jornal Expresso, são 700 escolas, previstas
para serem encerradas. Quantas crianças estão neste momento a pensar sobre como
será o seu ano escolar 2010/2011? Não têm respostas concretas, estão
preocupadas e confusas. São espectadores impotentes, que aguardam com ansiedade
o desfecho destas contendas. Provavelmente, nas suas mentes, questionam-se “ Porque
é que estão a discutir estas coisas, por nossa causa?”
Alguns títulos na imprensa.
"Autarcas ameaçam boicotar encerramento de escolas"
"Educação: Processo de encerramento das escolas foi mal conduzido pelo
Governo"
"Educação: Confap apela para que pais rejeitem encerramento de escolas
e ameaça com providências cautelares"
"Bragança: Distrital do PSD opõe-se ao encerramento de
escolas com menos de 20 alunos"
"Encerramento de escolas "sacrifica" milhares de
crianças"
“Fecho das escolas pode agravar a desertificação”
Não reparei em nenhum título de jornal a destacar a forma como esta
discussão pode estar a afectar as crianças.
Nesta altura existem diversas divergências sem solução à vista sobre o futuro escolar das crianças, isto é, autarcas, associações de pais, políticos e o ministério da educação confrontam-se de uma
forma que considero inaceitável, como sabemos o ano lectivo está prestes a
começar.
Ninguém expõe os potenciais consequências desta discussão hipócrita e
despropositada com receio de as crianças serem afectadas. Adopta-se o mesmo mecanismo da avestruz com medo que enterra a cabeça na areia.
Aproveito para
afirmar que a grande maioria destas crianças sofre em silêncio, confusas e vulneráveis.
Porque é que a menos de um mês do inicio das aulas os adultos decidem tratar um
assunto tão delicado e complexo, de uma forma atabalhoada e egoísta? Só me
resta uma resposta. Primeiro, os adultos quiseram gozar as férias. E
os interesses educativos das crianças? Porque é que os jornais dedicam páginas
e paginas a um assunto tão delicado limitando-se a explorar os “podres” da controvérsia
e os egos frenéticos dos intervenientes?
E qual é o exemplo que nós, adultos, devemos às crianças? Evocamos o nome
das crianças para praticar a devoção fingida? Porque na prática elas não votam
e não têm tribunais.
Alguns adultos (mentes brilhantes) vêm a publico fazer afirmações sobre os
comportamentos irreflectidos e irresponsáveis da nova geração
(adolescentes). Outros surgem na TV a debater questões sobre o bullying e as consequências, das drogas, só quando surge uma tragédia. Entretanto, os adultos
ficam preocupados e iniciam-se grandes debates sobre
este fenómeno. Depois do alvoroço retomamos a nossa postura apática e egocêntrica.
Afinal que valores morais estamos a passar às crianças? As crianças são
esquecidas e negligenciadas pelos adultos.
Considero que, nesta fase, as crianças que vão iniciar a escola
merecem um ambiente tranquilo à sua volta. Irão ser transferidas para contextos
desconhecidos e sujeitas à pressão da mudança. Conhecer novos ambientes e
colegas. Precisam de orientação e apoio dos adultos. Precisam de escolas seguras e
professores motivados e comprometidos. Estão vulneráveis à pressão,
às expectativas dos encarregados de educação e dos professores e à
pressão dos pares.
Se desejar pode comentar este assunto no blogue.