domingo, 22 de agosto de 2010

O que é que os Adultos transmitem realmente às Crianças?





Nos últimos dias, determinado assunto tem gerado debate na imprensa, refiro-me à polémica sobre o encerramento de centenas de escolas no país. A forma como a discussão está a ser conduzida, pelos adultos, está a assumir dimensões preocupantes, interferindo no bem-estar dos alunos (crianças). Refiro-me aquelas crianças afectadas directamente, como para a grande maioria dos alunos portugueses. Mais um caso concreto a juntar a muitos outros, onde os direitos e interesses educativos das crianças são negligenciados. Aquilo que realmente interessa e que tem merecido a atenção dos adultos é orçamentos e despesas (números). Quando se discutem números, o caso da criança que se chama Maria, ou o Marco, a Anabela ou o Fernando são ignorados. Para se ter uma noção das crianças envolvidas, segundo o jornal Expresso, são 700 escolas, previstas para serem encerradas. Quantas crianças estão neste momento a pensar sobre como será o seu ano escolar 2010/2011? Não têm respostas concretas, estão preocupadas e confusas. São espectadores impotentes, que aguardam com ansiedade o desfecho destas contendas. Provavelmente, nas suas mentes, questionam-se “ Porque é que estão a discutir estas coisas, por nossa causa?”

Alguns títulos na imprensa.
"Autarcas ameaçam boicotar encerramento de escolas"
"Educação: Processo de encerramento das escolas foi mal conduzido pelo Governo"
"Educação: Confap apela para que pais rejeitem encerramento de escolas e ameaça com providências cautelares"
"Bragança:  Distrital do PSD opõe-se ao encerramento de escolas com menos de 20 alunos"
"Encerramento de escolas "sacrifica" milhares de crianças"
“Fecho das escolas pode agravar a desertificação”

Não reparei em nenhum título de jornal a destacar a forma como esta discussão pode estar a afectar as crianças.

Nesta altura existem diversas divergências sem solução à vista sobre o futuro escolar das crianças, isto é, autarcas, associações de pais, políticos e o ministério da educação confrontam-se de uma forma que considero inaceitável, como sabemos o ano lectivo está prestes a começar.

Ninguém expõe os potenciais consequências desta discussão hipócrita e despropositada com receio de as crianças serem afectadas. Adopta-se o mesmo mecanismo da avestruz com medo que enterra a cabeça na areia.  

Aproveito para afirmar que a grande maioria destas crianças sofre em silêncio, confusas e vulneráveis. 

Porque é que a menos de um mês do inicio das aulas os adultos decidem tratar um assunto tão delicado e complexo, de uma forma atabalhoada e egoísta? Só me resta uma resposta. Primeiro, os adultos quiseram gozar as férias. E os interesses educativos das crianças? Porque é que os jornais dedicam páginas e paginas a um assunto tão delicado limitando-se a explorar os “podres” da controvérsia e os egos frenéticos dos intervenientes?

E qual é o exemplo que nós, adultos, devemos às crianças? Evocamos o nome das crianças para praticar a devoção fingida? Porque na prática elas não votam e não têm tribunais.

Alguns adultos (mentes brilhantes) vêm a publico fazer afirmações sobre os comportamentos irreflectidos e irresponsáveis da nova geração (adolescentes). Outros surgem na TV a debater questões sobre o bullying e as consequências, das drogas, só quando surge uma tragédia. Entretanto, os adultos ficam preocupados e iniciam-se grandes debates sobre este fenómeno. Depois do alvoroço retomamos a nossa postura apática e egocêntrica. Afinal que valores morais estamos a passar às crianças? As crianças são esquecidas e negligenciadas pelos adultos.

Considero que, nesta fase, as crianças que vão iniciar a escola merecem um ambiente tranquilo à sua volta. Irão ser transferidas para contextos desconhecidos e sujeitas à pressão da mudança. Conhecer novos ambientes e colegas. Precisam de orientação e apoio dos adultos. Precisam de escolas seguras e professores motivados e comprometidos. Estão vulneráveis à pressão, às expectativas dos encarregados de educação e dos professores e à pressão dos pares.  
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