De acordo com os últimos dados do Instituto da Droga e Toxicodependência
e do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência existe um numero
significativo de crianças e adolescentes portugueses afectados pelas
consequências negativas das substâncias lícitas, incluindo o álcool, e das
substâncias ilícitas. Não é novidade, mas apesar das evidências continuamos sem
uma política e uma cultura direccionada para a prevenção das dependências. Todavia,
estes relatórios não fazem referencias outro tipo de doenças do foro mental, em
muitos casos associados ao consumo de drogas, por exemplo, a depressão e o
suicídio. De acordo com a minha experiencia profissional, os dados disponíveis
estão subavaliados, isto é, sabemos apenas a ponta do “iceberg” e escondem a
verdadeira dimensão do problema.
O consumo e o abuso de substâncias psicoactivas lícitas,
incluindo o álcool, e as ilícitas entre os jovens, geram consequências graves a
nível psicossocial e elevados custos económicos ao longo da vida. A acrescentar
ao fenómeno preocupante e aos custos económicos, podemos também incluir os
danos à família, na escola e na comunidade. Para além do elevado peso económico,
o consumo e o abuso de substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool, e
as ilícitas, também afecta as competências do desenvolvimento dos jovens, das
quais destaco os relacionamentos interpessoais saudáveis, sucesso escolar e
também a entrada no mercado do trabalho.
Como é óbvio, alguns problemas de saúde mental estão ligados
aos problemas de saúde física. Nesse sentido, podemos concluir: saúde mental saudável,
melhoras na saúde física. Todavia, os políticos portugueses, apesar do seu
conhecimento dos dados acima referidos, optam por negligenciar, e
consequentemente, aguardar até que os problemas relacionados com as dependências,
despontem, com consequências alarmantes e em alguns casos dramáticas, para
depois procurarem as soluções “atabalhoadas”, e excessivamente dispendiosas,
para os contribuintes portugueses e para a economia do país. As medidas
atabalhoadas, servem somente para “desenrascar” a situação em si, nunca o problema, na sua
verdadeira dimensão.
Na minha opinião, actualmente não existe, e nunca existiu desde
o 25 de Abril de 1974, (38 anos) uma vontade expressa e/ou um plano concertado
entre os parceiros sociais, a investigação científica, os médicos, a comunidade
escolar, os tribunais e a sociedade na área específica da prevenção das dependências.
As drogas, o alcoolismo, o tráfico, o consumo aparenta fazer parte de uma estratégia
de uma agenda política que visa, somente, angariar votos. Infelizmente, são
casos de polícia e dos tribunais. Um número significativo de reclusos, são jovens,
cujo delito está relacionado com drogas. Sabemos também que as prisões não
reabilitam ninguém, pelo contrário. Em Portugal, não existe história, cultura e
políticos que cumpram as suas promessas políticas, em prol dos direitos e das
liberdades das crianças, provavelmente, por as crianças não terem “voto na
matéria.”
Algumas áreas a necessitar de intervenção:
Prevenir a gravidez Indesejável e/ou em idade prematura.
Competências parentais /Planeamento familiar
Promover competências na escola contra o consumo de
substâncias psicoactivas, a violência (bullying),
e a educação sexual.
Prevenção das doenças do foro psicológico (depressão, suicídio,
outras)
Prevenção da adversidade e gestão das emoções e conflitos
(Separação, divorcio, dependências de substâncias dos pais, luto)
Promover comportamentos saudáveis junto de populações mais
desfavorecidas
Em plena crise social e económica, a indústria poderosa e
milionária das drogas e os seus parceiros, vai certamente proliferar. A oferta
supera a procura.
Em plena crise social e económica, a indústria poderosa e
milionária do álcool, vai certamente investir nas técnicas agressivas de
marketing e de venda, visto a legislação permitir essa ilegalidade. Por
exemplo, as bebidas alcoólicas e o desporto não se misturam.
Enquanto os políticos optarem pelo silêncio, sobre a
prevenção das dependências, estão a negligenciar e a consentir que algumas
crianças e adolescentes, famílias e comunidades continuem a sofrer as
consequências dramáticas, assim como a (des) responsabilização pelos custos
económicos elevados, associados á dependência das substâncias lícitas,
incluindo o álcool, e as substâncias ilícitas. O Mundo dos Adultos não é seguro
para algumas crianças vulneráveis. Desde tempos remotos, nunca foi, chegou a
altura de quebrar o silêncio.
Não será mais económico o investimento na prevenção dos
problemas de saúde do indivíduo, da família e da comunidade (física e mental)
em vez de o estado (contribuintes) suportar o peso elevadíssimo da factura na
negação dos sintomas e consequências? Qual o resultado pratico da luta contra
as drogas? Na minha perspectiva, não identifico um envolvimento e um
compromisso na maioria dos políticos na luta contra a droga. Precisamos de
líderes que saibam liderar e gerar confiança, precisamos de transparência nas políticas
deste país. Como diz o ditado popular: “Mais vale prevenir do que remediar”