domingo, 26 de agosto de 2012

"O Regresso à Escola”


Entrevista com o Dr. Miguel Mealha Estrada sobre “O Regresso à Escola”
Por: Patrícia Tadeia (Jornalista) Jornal METRO, Portugal

Patricia Tadeia: Como é que as crianças vêem e lidam, de um modo geral, com o primeiro dia de aulas? É um dia fundamental para traçar todo o percurso escolar?

Miguel Mealha: Varia de criança para criança; varia desde a educação e disponibilidade emocional que os pais têm dado e dão à criança, desde como a sua composição genética, estará, digamos “preparada” para lidar com o desconhecido e como se vai moldando durante o desenvolvimento.

Outro factor muito importante, é que o "primeiro dia de aulas" não começa quando a criança entra na escola, mas sim, enquanto a criança, neste caso o feto, ainda está dentro da barriga da mãe (para mais detalhes ler o meu artigo no Portal da Saúde, "O Irrelembrável e o Inesquecível- A Alquimia do Nós" (http://saude.pt.msn.com/, na secção "Família- Fertilidade e Gravidez) - a criança desde essa etapa, digamos, já está a aprender. Com isto quero dizer que a preparação da criança para enfrentar e saber lidar de passo a passo com novas situações e desafios, começa pelo seu desenvolvimento, desde bebé, à cresce até ao primeiro dia de escola, e isto está dependente da capacidade dos pais de ensinar os filhos a auto-regularem-se psicologicamente entre outros factores sociais de influencia e mesmo da pré-disposição genética do ser humano, acompanhando assim os níveis de desenvolvimento do bebé e da criança (o qual não é linear) - este é um assunto extremamente importante o qual eu explicarei em mais detalhe nas seguintes perguntas; é essencial que os pais saibam, e eu farei o meu melhor em explicar em termos leigos, de certos factores muito importantes que a as ciências da neurobiologia afectiva e das relações nos informam cada vez mais sobre as frustrações, medos, ansiedades, oportunidades e possíveis resoluções de problemas que afectam a aprendizagem e o ser humano em si- tudo isto faz parte da composição da experiência emocional do aprender e ensinar.

Quanto ao "primeiro dia de aulas": é um começo, algo não concretizado, que trás uma série de expectativas (algumas conscientes e outras inconscientes), que na sua generalidade trazem sempre questões humanas tais como: um novo começo, que expectativas a criança e níveis de auto- estima trás consigo, estará preparada para lidar com o desconhecido e formar e manter relações, tanto com os professores como com os colegas- será um comprimento de desejos? A não ser que experiências negativas no passado tenham reduzido a capacidade emocional da criança para enfrentar tais dilemas; há sempre dúvidas, medos, incertezas, pensamentos "será que vou falhar?", "será que os meus pais me vão dar suporte?", "será que os meus pais vão deixar de gostar de mim se eu não conseguir?", "será que o professor ou professora irá gostar de mim?"- os riscos a tomar, o aprender cada vez mais a lidar com os medos e frustrações, o começar a saber a distinção entre as fantasias e a realidade, o saber lidar com a ansiedade e a incerteza, que neste período de desenvolvimento é crítico que tanto os pais e os professores estejam atentos e haja comunicação entre ambos para assim ajudarem a criança a desenvolver os seus mecanismos cerebrais e o seu sentido de coerência para lidar com o desconhecido, e passo a passo, a desenvolver uma aptitude mais independente na sua auto-regulação emocional- estes são alguns dos parâmetros irredutíveis dos direitos das crianças. Por tal, não digo que é o começo de uma trajectória de ensino, mas sim, mais um passo no desenvolvimento da criança que começou no útero da mãe.

Quanto ao primeiro dia de escola, existem sentimentos e comportamentos frequentes, que podem ser lidados com imaginação tais como:

• Levantar- se cedo. Isto significa que a criança pode ter um pequeno-almoço relaxante, deixando tempo suficiente para lidar com receios - e ainda chegar à escola a tempo.

• Não falar sobre o quanto vai sentir falta do seu filho/a. Não deixe que as suas preocupações sejam um obstáculo para com a criança- aprenda a lidar com as suas ansiedades sem as projectar para com as crianças. Tanto a pé com a sua criança para a escola (ou colocar ela no autocarro da escola), conversar com outros pais se você necessita de suporte. O seu filho/a já tem o suficiente com que se preocupar com o primeiro dia de aulas sem ter que ser responsável para acalmar as ansiedades doa pais.

• Foque-se na diversão. Se escolta seu filho à escola, conhecer o professor em conjunto e dar uma vista de olhos em torno da nova aula, falando com o professor acerca de coisas de que a criança gosta, tais como arte, arte, brincadeiras preferidas, até modos de leitura.

• Se o seu filho/a ficar chateado ou com ansiedade e medos, reconhecer o sentimento e peça ao professor para sugestões, incluindo na conversa a criança. Poderá dizer, "Eu sei que estás com medo- decerto que não és só tu, outros teus colegas também estarão. "Vamos pensar sobre algo que te vá a ajudar a sentir melhor.”. Sugira ler um livro juntos ou iniciar uma actividade.

• Peça ao professor para ajudar. Se o seu filho ficar ansioso ou com uma ligeira ansiedade de separação (o que nestes tempos é bastante normal), peça ajuda ao professor. Poderá dizer, "vamos dizer olá ao teu professor juntos. Ele irá tomar conta de ti e não te esqueças que eu penso sempre em ti."

• Fazer uma saída rápida se possível. Tomar a relação para com o professor/a para com o seu o seu filho/a, mas quando é hora de ir, vá. Uma saída rápida pode ser mais útil para a criança, com um "adeus e até logo, diverte-te."

As primeiras semanas de escola são um tempo para ajudar a criança ajustar-se às rotinas, aos seus medos e ansiedades. Entusiasme-se com o que ela aprende e ajude-a a tornar-se mais independente dos pais. Aqui estão algumas sugestões de como poder ajudar:

• Conheça o professor/a. Quanto mais rápido os pais estabelecerem uma relação positiva com o professor/a do seu filho/a, a probabilidade da criança em adaptar-se a novos ambientes e tornar-se independente na generalidade será mais elevada, pois a criança terá em mente que existe um elo de confiança entre aluno/professor que é baseado na auto- confiança dos pais, que se projecta para com o professor/a. Quanto mais segura a criança se sente, mais energia ela pode pôr em aprendizagem - ou seja, a partir da perspectiva dos pais, que pretende apoiar a sua criança formando esse vínculo de qualidade para com o professor/a.

• Quando leva a criança para a sala de aulas, peça para ver alguns trabalhos. Se você sente que a criança se sente desconfortável com receios, medos e ansiedades, foque-se no positivo, mas muito importante, não descarte os seus medos- valide-os, ouça a criança e que ela sinta que os pais sentem o que ela sente, para então ela se sentir emocionalmente compreendida. Peça-lhe para lhe mostrar um projecto de arte, ou outra actividade que ele está fazendo na escola. Faça entender a criança que é normal ter medo e ansiedade nos primeiros dias de escola e que a criança saiba que os pais e professores estão emocionalmente disponíveis para dar apoio à criança.

• Se o seu filho/a sente muito a sua falta, escolha um objecto especial, que ela pode trazer para a escola. Por vezes ajuda com a transição se as crianças podem levar uma recordação da casa - uma imagem da mãe, uma nota, um lenço, ou outro objecto especial para recordar-lhes que os pais o têm em mente. Incentive a criança para mostrar o objecto ao professor/a. Faça um acordo para com o professor como esse objecto pode ser utilizado durante o dia de aulas.

• Se o seu filho/a diz, "Eu não quero ir", é muitas vezes vantajoso lembrar-lhe acerca das coisas divertidas. Pense em algo que saiba que o seu filho gosta de fazer, ou gosta na escola. Veja se pode começar a fazer tal actividade junto com a criança. Recorde a criança de todos os novos ou velhos amigos na sua classe. Se você não leva o seu filho à escola, sugira que ele/a faça algumas destas actividades quando chegar à escola, e enviar uma nota para o professor sobre as suas preocupações. Mas mais uma vez, não descarte os medos da criança, em vez, valide-os e tome a sua ansiedade a sério, pois terá de dizer á criança que ela terá que enfrentar alguns dos seus medos, mas que a criança tenha em conta que estará lá sempre para ela. Pensamento positivo em demasia e não aceitar os seus medos faz com que a criança se torne emocionalmente invisível, criando mais ansiedade e tristeza na criança, por não se sentir emocionalmente compreendida.

• Não fique surpreendido se o seu filho/a vier triste no final do dia: as crianças muitas vezes necessitam de saber e sentir que os pais estarão lá para elas - fora da patologia, na "normalidade", é normal que as crianças se sintam mais seguras em trazerem as suas frustrações para casa. É bastante saudável que as crianças tragam tais receios e ansiedades para serem lidadas em casa com os pais, para assim as dinâmicas familiares irem evoluindo tal como as propriedades emergentes psicológicas da criança no elo familiar.
• Se encontrar problemas frequentes de ajustamento, tanto cognitivos como sociais, pedir auxilio á escola. Se a separação permanece ansiosa após algumas semanas, configurar uma reunião com o professor/a de seu filho/a e/ou com o director da escola para falar sobre melhores maneiras em que todos podem colaborar sistematicamente e em sincronização. Se possível, uma reunião sem a criança, e depois, agendar uma reunião com a criança, pois a criança sabe de certa maneira onde estão os seus medos, e que assim possa ser feito um plano de suporte emocional à criança.

• Participe nos eventos da escola. Vá a reuniões. Estes acontecimentos dão-lhe a oportunidade de ver o mundo funcional, tanto cognitivo como emocional, do seu filho fora de casa, e encontrar e conhecer pessoas responsáveis (assim como outros pais) com que possa partilhar ideias e experiencias.

A chave aqui é separar os seus próprios sentimentos sobre a escola desde a sua infância, para que os seus filhos possam ter um novo começo. Você como pai poderá ter tido uma experiência horrível (o que pode fazer com que se preocupe demasiado com a criança) ou uma experiência maravilhosa (que poderá fazer os pais insensíveis aos sentimentos dos seus filhos e não reconhecerem que eles podem estar a passar por um mau bocado. É por isso que pensar-se e separar-se da sua própria experiência para com a da criança é extremamente importante!

Patrícia Tadeia: Como é que os pais devem lidar com esta “independência” da criança?

Miguel Mealha: Penso que esta pergunta em grande medida já foi respondida na pergunta anterior. O mais importante é que a criança tenha em mente que os pais e professores a têm em consideração e estarão lá para ela, tanto para a ela, tal como, sem humilhação e punição a ajudarem a ajustar-se às regras básicas do funcionamento social e do aprender a estabelecer relações de qualidade.
Leia o texto na integra siga o link.

Dr. Miguel Mealha Estrada,
Consultório da Criança & Família,
Gabinete de Observação Médico Pediátrica, Lda.
Largo Luzia Maria Martins, 1-C, esc. 2
1600-825, Lisboa
Tel.: 217260970
TM: 917502234
www.pedopsicoterapia.com

Membro da AP, Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica
Membro da International Neuropsychoanalysis Society
Membro do Concelho Científico Do Portal de Saúde Mental, Família e Medicina

Comentário: O Dr Miguel Mealha é um colaborador regular no "Mais Vale Prevenir Do Que Remediar", nesse sentido, aproveito para expressar os meus agradecimentos pela sua participação.