10 Dicas úteis sobre como promover a resiliência no desenvolvimento
das crianças, por
Margarita Tartkovsky (Leia o texto na integra).
1. Não proporcionar todos os recursos
Segundo a Dra. Lynn Lyons “ Sempre que tentamos proporcionar
segurança e conforto, estamos a atrapalhar as crianças a fim de que elas
consigam desenvolver as suas competências na resolução de problemas e na
aquisição de perícias.” Proteger excessivamente as crianças somente irá
aumentar a ansiedade delas.”
A Dra Lyons ilustrou este exemplo muito comum de uma forma
dramática. “Às 15.30, a criança sai da escola e revela aos pais, que
frequentemente fica preocupada porque não sabe se os seus pais a vão buscar a
horas. Para tranquilizar a criança, os pais chegam à escola com uma hora de
antecedência e “estacionam” á frente da janela da sala de aula, para que a
criança os veja. Outro exemplo, “ Os pais permitem que o seu filho, de 7 anos,
durma num colchão no quarto deles porque o filho se sente desconfortável em
dormir no seu próprio quarto sozinho.”
2. Evite eliminar todos os riscos
Naturalmente, os pais procuram proporcionar segurança aos
seus filhos. Mas eliminar todos os riscos retira-lhes a oportunidade de aprenderem
sobre como ser resiliente. Numa família conhecida da Dra. Lyons, durante a
ausência e segundos os critérios dos
pais , as crianças não atingiram ainda o nível de maturidade suficiente que
lhes permita tomar as refeições em casa visto haver o receio de sufocarem com a
comida, assim, segundo a Dra Lyons, também não estão habilitadas a permanecer
em casa. Se as crianças já são crescidas o suficiente para estar em casa
sozinhas, também são crescidas para se alimentarem.
O factor chave reside em permitir às crianças correr riscos
apropriados à sua idade e ensinar algumas competências essenciais ao seu
desenvolvimento. O adolescente que vai tirar a carta de condução, aos 5 anos de
idade aprendeu a andar de bicicleta e que antes de atravessar a rua, precisava abrandar
a velocidade, prestar atenção aos carros e olhar para o lado direito e para o
lado esquerdo, Proporcionar às crianças, a liberdade apropriada à sua idade,
ajuda-os a aprender a definir os seus próprios limites.
3. Ensine-os a resolver os seus próprios problemas
A criança está amedrontada por ir passar o fim-de-semana com
os amigos, num campo de férias, longe de casa. Segundo a Dra Lyons, um
progenitor ansioso afirmaria numa situação destas “Pronto, não há necessidade
em ires ao campo de férias. Podes ficar em casa.”
Todavia, uma abordagem mais correcta consiste em estabilizar
o estado de ansiedade da criança, ajudando-a a gerir as suas emoções em relação
às saudades de casa. Nesse sentido, pode perguntar à criança o é que ela pode
fazer a fim de se adaptar às saudades de casa.
Quando o filho da Dra Lyons ficava ansioso por causa do
exame final, ela e ele faziam um brainstorm sobre as possíveis estratégias para gerir melhor
o tempo e o horário para estudar. Por outras palavras, ajuda-lo a acostumar-se
a enfrentar os seus próprios desafios. Através da repetição, proporcionar-lhe
oportunidades a fim de determinar aquilo que funciona e aquilo que não
funciona.
4. Ensine aos seus filhos competências concretas
Quando a Dra Lyons, trabalha com crianças, ensina-lhes
competências específicas a fim de eles aprenderem a gerir determinadas
situações. Costuma questionar-se a si própria “Qual é o objectivo que pretendo
atingir com esta situação? Qual é a competência que eles necessitam de aprender
para atingir o objectivo?” Por exemplo, pode ensinar a criança a cumprimentar
alguém e a iniciar uma conversa.
5. Evite a pergunta “Porquê?”
Segundo a Dra Lyons, o “Porquê?” não se revela eficiente na
aquisição de competências para gerir os problemas. Por exemplo, se o seu filho
deixa a bicicleta à chuva e você pergunta, “Porquê?” O que é que elas vão
dizer? A resposta vai ser “Tenho 8 anos e sou uma criança descuidada.”
Faça perguntas utilizando o “Como”. “Olha lá, deixaste a
bicicleta à chuva e a corrente ficou enferrujada. Como é que podes reparar essa
situação?” Por exemplo, o seu filho pode ir fazer uma pesquisa à internet e
descobrir como pode reparar a corrente enferrujada ou contribuir com o seu
próprio dinheiro para uma corrente nova. A Dra Lyons também utiliza o “Como”
para ensinar competências diferenciadas. “Como é que vais levantar da cama
quando está acolhedor e os lençóis estão quentinhos?” ou “Como é que vais
lidar, com os rapazes barulhentos da tua turma, quando eles começarem a
incomodar?
6. Não lhes proporcione todas as respostas
A Dra. Lyons, afirma que, em vez de lhes dar todas as
respostas, faça o seguinte, utilizando a frase “Não sei.” Assim está a
proporcionar-lhes as competências necessárias para a gestão dos problemas.
Utilizando esta frase, está a ensinar-lhes a tolerar a incerteza e a ajuda-los
a pensar sobre as formas possíveis de enfrentar alguns desafios. Faça este
exercício quando eles são crianças, e ao longo do seu crescimento,
proporcionando-lhes pequenos desafios, está a prepara-los para desafios maiores
e mais arriscados. Eles não vão gostar, mas com o tempo vão acostumar-se.
Por exemplo, quando você vai á consulta de rotina do médico
do seu filho, e ele perguntar “Ó mãe,
vou apanhar uma pica?” em vez de o tranquilizar, diga “Não sei. É bem provável
que leves uma pica, se acontecer, vamos ver como é que vais enfrentar a
situação.” Outro exemplo semelhante, se o seu filho perguntar “Ó mãe hoje vou
ficar doente?” Em vez de responder “Não, não penses nisso. Não vai acontecer
nada.” responda “É provável, se acontecer vamos ver como lidas com isso.”
Se a criança estiver preocupada porque vai detestar a
escola, em vez de dizer “Vais adorar, vais ver!” Você pode explicar que algumas
crianças podem não gostar da escola, desta forma, você pode ajuda-lo a encontrar
outras alternativas.
7. Evite o discurso utilizando termos catastróficos
Preste muita atenção aquilo que diz em frente aos seus
filhos. Segundo a Dra Lyons, os pais ansiosos têm a tendência para utilizar
termos catastróficos. Por exemplo, em vez de dizerem “É mesmo importante
aprenderes a nadar,” dizem “É mesmo importante aprenderes a nadar porque seria
devastador, para mim, se um dia tu te afogasses.”
8. Permita que os seus filhos cometam erros
De acordo com a Dra Lyons, cometer erros não significa que
seja o fim do mundo. É esta a forma como adquirimos o discernimento, a fim de
sabermos o que fazer a seguir e a resolver a situação. Para os pais, revela-se
extremamente doloroso, permitirem a confusão e a desordem. Por outro lado, é
desta maneira que as crianças aprendem a identificar e a corrigir equívocos, e
para a próxima vez, aprendem a evitar cometer os mesmos erros. É típico dos
pais ansioso e superprotectores, quando a criança possui uma determinada
tarefa, fazem questão de que façam o trabalho o mais possível próximo da
perfeição, mesmo que numa primeira abordagem a criança, não revele
absolutamente interesse nenhum. Permita à criança identificar as consequências
das suas acções. Outro exemplo semelhante, se o seu filho não quer ir à natação,
permita que ele fique em casa, porque da próxima vez, quando ele se sentar no
sofá poderá sentir-se desconfortável.
9. Ajude o seu filho a gerir as emoções
A Dra Lyons, afirma que a gestão das emoções é o factor
principal para a resiliência. Ensine o seu filho a aceitar as emoções, como
algo perfeitamente legítimo. É normal sentir raiva quando ele ou ela perde o
jogo ou se alguém lhe come o gelado todo. Depois das emoções atribuladas, eles
precisam de pensar sobre aquilo que vão fazer de seguida. Rapidamente, as crianças
também aprendem a distinguir e a relacionar as suas emoções poderosas e aquilo
que eles querem. Os pais também precisam de aprender como lidar com suas emoções.
Como progenitor, você poderá dizer “Compreendo que te sintas frustrado e
zangado. Se estivesse no teu lugar, também me sentia da mesma maneira.
Entretanto, precisas de aprender a identificar qual é próximo passo e qual o
comportamento mais apropriado.” Se o seu filho fizer uma grande gritaria,
ficará bem claro qual o tipo de comportamento que é apropriado ou não. Você
dirá “Desculpa, mas não vou buscar outro gelado, porque esse tipo de
comportamento é inapropriado e inaceitável.
10. Resiliência
É óbvio que as crianças aprendem observando o comportamento
dos progenitores. Segundo a Dra Lyons, sugere “Seja consistente e tenha calma.
Você, como progenitor, não pode pedir aos seus filhos para controlarem as
emoções, se você não consegue controlar as suas. Na verdade, nós baralhamos
tudo e como sabemos a educação exige muita pratica.” Quando você, como
progenitor, cometer um erro, admita-o e diga “Desculpa filho, realmente
estraguei tudo. Não consegui gerir a situação com calma. Vamos falar e
descobrir outra forma diferente de lidar com a situação no futuro.”
É desde criança e ao longo da adolescência que a resiliência
proporciona orientação e competências através de caminhos, conquistas e adversidades,
por si só, inevitáveis e complexas, mas que fazem parte integrante do próprio
desenvolvimento. Crianças resilientes, mais tarde, tornam-se adultos resilientes,
capazes de sobreviver e prosperar expostos aos mais diversos tipos de
adversidade.
Comentário: Como
adultos sabemos o quão importante são os valores e as competências que nos
foram incutidos pelos pais ou pessoas significativas, pela família em geral,
pela escola e pela sociedade ao longo do nosso desenvolvimento. Da mesma forma,
também sabemos o quão importante foram, e ainda continuam a ser, os erros que todos
nós cometemos. É nesta dança entre a aquisição de competências e a aprendizagem
dos erros, relação causa e efeito, que a prevenção das dependências ocorre
desde o nascimento e ao longo da vida.
A prevenção das dependências, direccionada para as crianças,
só é possível se TODOS estivermos envolvidos e assumirmos esse compromisso –
causa. Por outras palavras, se sabemos que as crianças adquirem grande parte das
suas competências observando os adultos; nós como adultos, responsáveis e com
mais experiencia de vida, precisamos de ser um exemplo a seguir.
A sociedade somos todos nós. Estaremos a proporcionar às
nossas crianças um leque de oportunidades que elas precisam para explorar o
mundo? Será que estamos a incutir nas crianças um espirito que as motive a
explorar o seu próprio potencial, a prosperarem e a oferecer-lhes alternativas
para enfrentarem as adversidades? As drogas, incluindo o álcool, estão disponíveis
para aqueles jovens que não exploraram, desenvolvem e prosperaram ao longo do
seu desenvolvimento e servem, na perfeição, como uma almofada para atenuar a dor e o trauma, a
frustração, a vergonha, a rejeição, a culpa.