terça-feira, 17 de março de 2009

Escolhas Positivas


Fui contactado por um colega para organizar um programa de Prevenção das Dependências para um grupo de pessoas da mesma família (irmãos e respectivos cônjuges, todos com filhos com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos). Coisa inédita. Na maioria dos casos e segundo a minha experiencia, é habitual ser contactado através de escolas, associações, instituições, mas nunca por uma família. Fiquei ao mesmo tempo surpreendido e encantado com esta oportunidade.

Uma família modelo preocupada e decidida a avançar na Prevenção das Dependências, em vez de delegar a responsabilidade deste trabalho na escola, nos professores, nos políticos, na polícia, na sorte, etc. Querem aprender, e assim, assumir a sua quota-parte na educação dos seus filhos. Como é do senso comum a “instituição” familiar ocupa um lugar de relevo na Prevenção das Dependências.

Estabeleço um paralelo entre duas situações diferentes e antagónicas. Num extremo uma família activa e determinada, no outro, uma família disfuncional e “doente”. Desde 1993 que trabalho e colaboro com instituições no tratamento das dependências, em regime residencial de internamento, e recordo vários relatos de membros de família impotentes, desesperadas, outros em completa negação, “cheios” de sentimento de culpa e remorso, que afirmavam desconhecer por completo a razão pela qual o seu filho/a tinha desenvolvido uma dependência às drogas, incluindo o álcool, e estar internado na clínica. Interrogavam-se desesperados; “Como é possível o meu filho/a ter um problema com drogas?” e “ O que fiz de errado?” ou “O que é que eu poderia ter feito diferente, de forma a evitar todo este sofrimento?” ou “Se ele/a (filho/a) realmente gostasse de nós, nunca faria uma coisa destas”, etc.

Visto já ter efectuado este programa de Prevenção das Dependências – “Escolhas Positivas” em escolas, decidi efectuar algumas adaptações a um contexto familiar direccionado somente aos pais. Prevenção das Dependências pode significar: prevenir, adiar e reduzir o consumo de toda e qualquer substancia potencialmente perigosa e geradora de dependência (adicção).

Em meados deste mês de Março, lá nos reunimos numa tarde amena de sábado, éramos 8 adultos ao todo. Começamos o Programa “Escolhas Positivas” por partilhar, “quebrar o gelo” inicial, aspectos relacionados com a educação dos filhos (duvidas, preocupações, diferentes pontos de vista) e o “papel” que cada progenitor desenvolve ao longo da vida do seu filho/a, em termos de referencia (modelo) num ambiente seguro e de respeito pelas ideias de cada um.

Depois avançamos para as substâncias psico-activas que alteram o humor (sistema nervoso central) e afectam o grau de percepção ou o funcionamento do cérebro (neurotransmissores) e susceptíveis de gerar dependência (doença) – drogas lícitas e ilícitas, incluindo o álcool e a nicotina – refiro–me às substancias estimulantes, depressoras, alucinogénicas e delirantes e os seus efeitos negativos a longo prazo. Existem drogas para todos os gostos e feitios. Hoje em dia, constato que a disponibilidade das substâncias, ex drogas ilícitas e lícitas (ex. benzodiazepinas – ansioliticos, etc.), é significativa entre os jovens faz parte de um acto social associado ao lazer e ao divertimento e em alguns casos para lidar com a pressão exagerada (ex. escola). Já para não referir o consumo precoce de bebidas alcoólicas pelos jovens – assumidamente, somos uma “cultura que bebe”.

Apresentei alguns motivos pela qual os jovens iniciam as primeiras experiencias com drogas depois abordamos o uso, o abuso e a dependência, falamos na oferta e na procura. Discutimos alguns aspectos interessantes; liberalização e a discriminação e os aspectos políticos desta abordagem sem resultados concretos no “terreno”.

A seguir mudamos de assunto; passamos das substâncias para as pessoas que são a verdadeira matéria-prima na Prevenção das Dependências e o objectivo do programa “Escolhas Positivas”. São necessários “heróis” e “heroínas” que assumam o compromisso e façam a diferença à custa de valores da família e da sociedade e não da valorização individual e/ou opulência material.

Se decidirmos investir na mudança de atitudes e de comportamentos, como um todo, não podemos estar à espera de “salvadores” e ou “milagres”, ou tornarmo-nos “vitimas” das circunstancias. Somos nós (família e sociedade) os principais interessados, porque ninguém deseja assistir, impotente, a um filho ou filha a sucumbir às consequências da dependência das drogas, incluindo o álcool.

Abordamos os factores de risco e os factores de protecção (pessoas, lugares e coisas) contemplando e identificando os principais domínios desta “Rede” multifacetada e complexa - Individuo, Família, Escola, Grupo de Pares, Comunidade e Sociedade. Todos estes domínios (sistema) estão interligados e apresentam um relação directa entre si, organizando-se e influenciando-se quer seja nos comportamentos de risco quer seja nos comportamentos protectores. Inevitavelmente, os factores de risco e os factores de protecção da Prevenção das Dependências, fazem parte dos lados da mesma moeda.

Discutimos sobre as expectativas da família quanto aos consumos do tabaco e álcool em casa. Identificamos a angústia e a impotência da ineficácia de algumas regras e limites impostos em casa, todavia pensamos na necessidade de re-inventar e ser criativo na abordagem disciplinar, como educadores, isto é, medida/estratégia que não surta efeito precisa de ser monitorizada, avaliada e se necessário alterada. Aprendemos que a rigidez, a critica severa, e a “busca da perfeição” não são compatíveis com a eficiência, o compromisso e a tolerância. Valorizamos o diálogo e a comunicação aberta entre a família, incluindo as crianças. È imprescindível o castigo, como medida de persuasão e de disciplina, mas proporcional à quebra da regra/comportamento a modificar. Não ser muito severo e exigente ou o lado oposto, ser negligente. A inexistência de regras, limites e a ausência de modelos e referências positivas na expressão dos afectos e emoções pode promover o estigma, a agressividade e o desafio dos valores, a mentira e a desonestidade, a vergonha tóxica, o sentimento de culpa e remorso e em último caso dependência de substâncias (Adicção).
Algumas Conclusões
Concluímos que o processo de desenvolvimento da vida de uma criança é repleto de riscos e acidentes, e que por vezes, só aprendem o errado depois de cometerem os tais erros. Isto é, não basta dizer, é preciso fazer. Isto também se aplica ao “papel” dos pais. Mas também é repleto de oportunidades “douradas” de aprendizagem e mudança nos comportamentos (resiliência).
Também concluímos que aquelas crianças e ou jovens mais expostos a situações de risco estão mais sujeitos abusar de substancias licitas e ou ilícitas, incluindo o tabaco e o álcool.

Agendamos um novo programa desta vez direccionado para as crianças, sem a presença dos pais, onde o nosso objectivo será direccionado para as competências individuais e sociais. Lá estarei para aprender com eles, ouvindo e participando com compromisso pela NOSSA causa e missão – “Mais Vale Prevenir do que Remediar” para isso, é importante fazer Escolhas Positivas.

Se você estiver interessado em participar no programa da Prevenção das Dependências – “Escolhas Positivas”, faça uma proposta à sua família e contacte-me. Estou a seu dispor para qualquer esclarecimento adicional. Tmv: 91 488 55 46

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