quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mais vale prevenir do que remediar


Este post faz parte de um email enviado à Deco no seguimento de uma noticia de um jornal que referia a existência de associações de consumidores na Europa que estão a desenvolver campanhas que visam reduzir alguns produtos de elevado conteúdo de açúcar, álcool ou gorduras. O meu especial interesse é direccionado para o álcool, à publicidade e a técnicas agressivas de marketing visto em Portugal existir negligência por parte das autoridades competentes, da ordem dos médicos, ordem dos advogados, tribunais e sociedade em geral quanto às medidas preventivas junto da industria do álcool. A vida das crianças está acima dos lucros e dos interesses das empresas.  
Venho por este meio agradecer a resposta da Deco e aproveito para enaltecer o seu trabalho junto dos consumidores portugueses.


Assunto: Estudo sobre a publicidade ao álcool e os jovens

Exmos. Srs. 
Venho por este meio solicitar o seguinte. Sou vosso associado e um profissional que trabalha na área no tratamento e prevenção das dependências, refiro-me às substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool e as ilícitas (comportamentos adictivos).  

Há uns dias um jornal diário fazia referência à seguinte notícia "As agências de publicidade em Portugal não estão muito a par do que se 
está a passar na União Europeia. Muitas associações de consumidores querem reduzir alguns produtos com elevado conteúdo de açúcar, álcool ou gorduras. Em certas categorias de produtos querem eliminar as marcas porque acham que isso vai reduzir o consumo" Anthony Gibson, presidente do grupo Publicis. 

Gostaria de saber se têm conhecimento sobre as referidas associações europeias, e os respectivos contactos, envolvidas neste projecto que visa reduzir os produtos acima referidos (açúcar, álcool e alimentos altamente calóricos). Tenho especial interesse em ao relação ao álcool, visto não existir prevenção junto da sociedade (escolas, famílias, grupo de pares e comunidade) e o meu trabalho coincidir com a prevenção. Também gostaria de saber se a DECO já fez algum estudo sobre o impacto da publicidade e das técnicas agressivas de marketing, associado à Industria do álcool, em especial das cervejeiras, cujo target são os jovens. Caso tenha sido realizado solicitava o referido estudo. Caso não tenha feito, porquê?  

Factos sobre sociedade portuguesa:
Como sabem o alcoolismo é um problema de saúde pública em Portugal. O álcool é uma droga (substância psicoactiva altamente adictiva).  Vivemos numa "cultura que bebe." 

Portugal é o único país da EU em que a idade legal para consumo (e abuso) é a partir dos 16 anos. O lema "Seja responsável beba com moderação" é desactualizado, ineficaz e responsabiliza o indivíduo que consome. Desresponsabiliza a indústria do álcool. O álcool é uma droga que gera dependência (doença crónica).  

Estima-se que existam 800.000 alcoólicos e 1.000.000 bebedores problemáticos. Quantas famílias portuguesas, 
incluindo as crianças, são afectadas pelo alcoolismo, ao longo de varias gerações?  

A mortalidade associada ao álcool estima-se como a 4ª causa de morte  (cirrose hepática, neoplasias das vias respiratórias, do aparelho digestivo superior, colo-rectais, fígado, hipertensão arterial, pancreatite crónica, AVC hemorrágicos)  

A violência doméstica está associada ao álcool. Podemos também acrescentar os acidentes viação, as taxas de suicídio, acidentes de 
trabalho, absentismo laboral e escolar, internamentos em hospitais psiquiátricos.

Os contratos milionários na publicidade ao álcool no desporto (ex.  futebol). A legislação existente em Portugal, é permissiva permitindo assim este fenómeno. O álcool e o desporto não se misturam.  

Qual o impacto económico, associado ao álcool, na sociedade portuguesa?  

De acordo com vários estudos, nos EUA e em Inglaterra, a indústria poderosa e milionária do álcool tem vindo a aperfeiçoar as suas 
técnicas agressivas de marketing direccionadas ao público jovem. Estas 
técnicas de marketing, em Portugal, não são supervisionadas pelas entidades responsáveis. Procuram fidelizar este tipo de target às suas marcas para o resto da vida. Existe uma relação entre a publicidade (marketing) e o consumo (por ex. binge drinking - beber álcool cujo intuito é a intoxicação pelos jovens). Aparentemente, não existe vontade política para alterar o rumo deste tipo actuação negligente.  Isto é, o lucro está acima dos interesses e da saúde dos jovens. A vida das nossas crianças é demasiado valiosa para que possa ser negligenciada 

Desde já convido-os a visitar os meus blogues, em especial o da prevenção das dependências, onde podem encontrar mais informação sobre este assunto.  

Aguardo uma resposta, tão breve quanto possível.  

Atenciosamente 
João Alexandre Rodrigues 
Conselheiro em Comportamentos Adictivos 
Addiction Counselor (Art of Counseling) 

Resposta da Deco
Exmo. Senhor,

Acusamos a recepção do seu e-mail, que agradecemos.

A redução dos teores de vários nutrientes, nomeadamente açúcar, sal e gordura tem sido uma preocupação das diferentes organizações de consumidores, nomeadamente das europeias. No entanto, desconhecemos o projecto específico que refere na sua comunicação e consequentemente quais as associações que estão envolvidas.

O nosso trabalho relacionado com os consumos abusivos do álcool e alcoolismo é um assunto que tem merecido a nossa atenção e sobre o qual temos vindo a desenvolver, já há vários anos, um trabalho a vários níveis:

- Junto dos consumidores, através dos conteúdos nas nossas publicações e no site (artigos em anexo sobre “ Venda de álcool a menores e “Hábitos de consumo de bebidas alcoólicas)
- Junto das autoridades e agentes do mercado, nomeadamente através da nossa participação no Fórum Álcool e Saúde, que decorre do Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool.

O mesmo se passa em relação à  redução dos teores de açúcares, gorduras e sal. Para além dos vários artigos que temos vindo a publicar sobre estas temáticas e nos quais apelamos sempre para uma redução dos teores destes nutrientes, participamos na “Plataforma contra a obesidade”.


Sem outro assunto de momento,  enviamos os melhores cumprimentos.


Atentamente

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Menos Medicação


Menos Medicação - Mais Amor, Menos Doença: A Esperança da Criança.

“Um infinito ardor
Quase triste os veste,
Semelhante ao sabor
Quen tem à noite o vento leste.
Bailam na doçura amarga
Da tarde brilhante e densa
Tem a morte em si suspensa.”  Sophia de Mello B. Andressen


Foi numa manhã fria, com a neve que rodeava o hospital, fazendo das suas paredes brancas a continuação do nada que se sentia lá fora. Logo de manhã, no hospital de pedopsiquiatria estava a equipa à espera das novas listas de pacientes, sem os conhecermos demos-lhe um rumo. A Maria pertence ao sector da Via Emocional, o Pedro ao sector da Via de Condutas de Comportamento e a João à Via do Neurodesenvolvimento.

Foi-me entregue o João, aquele que eu vou delinear um rumo, mas que não escolheu o seu destino e nunca cheguei a ver a sua cara. No relatório clínico especifica que é muito activo, com problemas de concentração e hostil para com os seus colegas. Parece mais um caso a juntar a muitos outros. Mas quem é ele? Como será a sua cara? Qual è a sua história que nem ele provavelmente pode fazer senso de sonhos perdidos, idealizações que cairam aos pés dele como areia que se escapa por entre os dedos, como foi forçado a não amar aquilo que sente?
Tais questões não são práticas, só possuímos cinco a sete minutos para decidir o que vai acontecer ao João, como, possivelmente, o iremos tratar e uma agenda de 20 minutos para escolher a medicação certa, diz então assim o Pedopsiquiatra.
Decidi ir à escola do João, que tem cinco anos de idade. Falei com a professora e ela disse-me que realmente algo se passa de errado com ele pois é quase ímpossivel de o ter na aula, distrai os alunos, e sai do seu lugar constantemente, distraindo assim, os colegas e é muito difícil de controlar. Agradeci-lhe o seu tempo e pedi para ver o João.

Apresentei-me ao João e perguntei-lhe se queria brincar por um bocado. Ele perguntou-me “Brincar? Porquê?” eu respondi-lhe que era para o conhecer melhor. Não houve resposta.  Gostaria de acrescentar que uma criança que não tem prazer em brincar, e que por espontaneidade vontade, não sente o benefício do que é fazer um elo/vínculo para com outra pessoa que manifesta interesse em si, essa criança perde a sua essência.

Mas será ele próprio que não tem interesse em brincar, ou será que lhe retiraram a capacidade de se vincular com alguem, até mesmo dentro de um sitio onde ele se sente seguro em termos físicos, por ex a escola?
Tentei então falar com ele, mas ele limitava-se a responder “Não sei…”.

Qualquer bebé de quatro meses, com um desenvolvimento normal, começa a compreender que o seio da mãe que o alimenta lhe proporciona segurança, que lhe promete uma vida com amor, consegue conceptualizar que esse mesmo seio, é aquele que lhe dá frustração, aquele seio que nem sempre pode estar presente quando ele quer, que projecta nesse seio o mau que há no mundo, e é nesse periodo, em que a frustração é regulada por uma mãe atenta, e assim, começa a ter noção que o seio bom é ao mesmo tempo o seio mau, que a qualidade e a percepção do que é o amor se transforma no psiquismo do bébé, e a ambivalência, se for bem regulada pela mãe, se transforma pouco a pouco em paciência, e o amor, acima de tudo, prevalece.

No caso do João, diagnosticado com Problemas de Comportamento com comorbilidade com Hiperactividade, fica um recluso, um problema, mais um alvo de um plano de comportamento do qual fico responsável por delinear. Ou seja, estamos a ser reactivos ao problema, ao invés de elaborar estratégias práticas de prevenção. Num modo existencial, somos iguais ao João no modo de reagimos.
Se analisarmos a história do João, há sonhos perdidos, amores paternais não correspondidos por idealização e narcisismo paternal, mas no final, o doente é o Joao...

Agora, que a sua coerência cerebral já foi mudelada para a reactividade com poucas possibilidades de apaziguamento cortical, cabe-nos a nós profissionais, transformar um cérebro de uma criança, em que a memória de todo o trauma que não é visto a olho nu, já se estende pelo seu sistema periférico, gravado nas suas celulas, com uma expectativa de perigo séria instalada. 

Por quanto tempo vamos ser reactivos e não estabelecer estratégias familiares de prevenção? Quem mais tarde vai suportar e pagar estas consequências é a sociedade. Por ex. hospitalizações, instituições, consultas, etc.

A minha preocupação, além da infelicidade da criança, é o modo estas crianças são encaradas perante uma sociedade negligente, visto não possuir conhecimento actualizado, e respostas concretas, sobre o problema destas crianças, assim como recursos necessários. Pensarmos que basta arranjar uma vinculação segura (instituição e/ou família), tudo o resto irá correr bem, assim fala a arrogância da ignorância.

Muitos dos casos podem ser resolvidos nos primeiros dois anos de vida, mas quem pensa “Ah, estes problemas de comportamento são normais da idade.” acaba por “assassinar” o desenvolvimento saudável da criança. A criança precisa de acreditar que no futuro consegue ser feliz, que consegue ter relações de qualidade, que aprende a perdoar, e muito mais importante, e o cerne de tudo, consegue amar aquilo que realmente sente. 

E depois negamos toda essa responsabilidade com medicação, não para resolver o problema mas sim para o adormecer e nao nos aborrecer muito.
Mas, e a felicidade da criança?

Dr. Miguel Estrada 
Extracto e traduzido do artigo “What about me?” publicado em 2009 na CAMHS (Child and Adolescente Mental Heath Service), Inglaterra.

Comentario: Os meus agradecimentos ao Dr Miguel Estrada pela sua colaboração no "Mais Vale Prevenir Do Que Remediar". Na minha opinião, a sociedade portuguesa ainda não presta os devidos cuidados às crianças. Algumas crianças vulneráveis são negligenciadas, com a conivência de alguns adultos.  Arrisco a afirmar que, provavelmente, se elas votassem e tivessem participação civica e jurídica nos tribunais, por exemplo se houvesse um tribunal para julgar adultos, a realidade seria diferente. Uma noticia no JN, de 20/10/2011, referia, segundo o presidente do grupo Psiscolas, a orientação do Ministério da Educação, para este anos lectivo quanto à contratação de psicólogos para as escolas, possa significar que um psicólogo tenha de prestar serviço em dois ou três agrupamentos escolares, um rácio de "um técnico para mais de cinco mil alunos". Caso se venha a concretizar esta situação preocupante, recordo a frase do dr Miguel Estrada "Mas, e a felicidade da criança?"


domingo, 16 de outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ComSUMOS ACADÉMICOS

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

É tudo urgente?


Se é tudo urgente, qual o tempo disponível que dispomos para relaxar, divertir e recuperar as energias positivas? Qual é o modelo de gestão que adoptamos que nos permite usufruir da companhia da família (momentos de intimidade), incluindo os filhos, dos amigos, lazer? Sorrir, conviver com a família e filhos, amigos, ter um sono reparador, ir ao cinema, dar um passeio, alimentação diversificada e saudável, exercício físico.
Hoje o stress é um assunto actual e em destaque, nem é preciso pensar muito sobre isso, basta ligar a televisão e ou comprar o jornal e ficamos em stress, por exemplo o desemprego aumenta, o aumento dos impostos, dos preços das coisas essenciais, da incompetência de alguns políticos dos quais depositamos a confiança para a gestão do país, da falta de oportunidade de realização das ambições pessoais, das dívidas etc.

 Não ter tempo para nada, segundo as nossas expectativas, gera stress. Facilmente, caímos na armadilha de andar a lamentar (queixas) e descontentes pela falta de tempo, do emprego que não satisfaz, do carro, da 2ª feira, do ordenado, da conta bancária, do corpo, do patrão, dos colegas, da crise, da mulher/marido, dos filhos, da conta bancária, da chuva/sol, mas quando estamos de fim-de-semana e ou de férias queixamo-nos porque não temos nada para fazer.

Stress e as Relações. Se é TUDO urgente quando é que estamos disponíveis para amar e ser amados? Sim, porque sendo assim, tudo urgente, um dia até podemos estar disponíveis para amar, mas a/a nossa/o parceiro/a pode não estar porque para ele/a, naquela altura, é TUDO urgente. Adquirimos o sentimento de que somos mal amados. Qual o timming para amar numa relação entre duas pessoas, quando tudo à volta é urgente?

Considero que, na maioria dos casos, adoptamos a máxima do stress “É tudo urgente…” sofremos as consequências ao nível da saúde física, mental e emocional/espiritual, parece que, para sermos indivíduos precisamos de sofrer, todavia, se o sofrimento não possuir um propósito e um sentido construtivo, resiliente e saudável, não se aprende nada. Nada muda, com a agravante de a tolerância ao sofrimento aumentar. Ficamos cristalizados na autopiedade, na vitimização, “mártir”. Evocam-se causas nobres para sofrer, mas na realidade nada muda, na infelicidade, na frustração e o no isolamento. Com tendência para piorar. É tudo urgente, gera mais stress.

Se é tudo urgente, revelamos uma necessidade exagerada em projectar, no futuro, as nossas desilusões, falhanços e desenvolvemos preconceitos e estereótipos em relação aquelas pessoas que pensam e agem de maneira diferente por exemplo marido/mulher, filhos, colega de trabalho, amigos/as. Consequentemente, iremos ficar paralisados e incapazes de criar soluções construtivas, comunicar as nossas necessidades e estar atentas às necessidades dos outros, estabelecer relacionamentos de intimidade com as pessoas significativas, incluindo os nossos filhos. Enquanto permanecermos ansiosos, projectando cenários catastróficos nas nossas mentes, será difícil sentir confiança, auto estima, capacidade crítica e motivação, porque é tudo urgente.

Segundo um estudo publicado na revista Psychological Science, quando as pessoas se sentem mal em relação a elas mesmo, ficam predispostas para criticar e desenvolver preconceitos em relação às pessoas que são distintas. Esta é uma das razões, mais remotas, pela qual criticamos e julgamos (preconceitos e estereótipos) as outras pessoas.

Adopte um modelo de gestão do stress que realmente funcione e seja saudável.
Dicas:
Faça um serio investimento no tempo e energia que dedica ao sono. Durma oito horas e recarregue as baterias positivas e assim contribui para um melhor desempenho da memória, da concentração, da gestão das emoções e gestão dos conflitos.

Faça uma actualização pormenorizada aos seus critérios se pensar que dormir é perda de tempo. Identifica sentimentos de culpa ou embaraço por dormir uma sesta? Se pensar que dormir é sinónimo de preguiça, essas atitudes estão desactualizadas.

Faça exercício físico com regularidade, de preferência integrado num grupo de pessoas. Convide familiares e ou amigos para caminharem.

Alguns factores que só servem para desmotivar. Falta de confiança, falta de ambição, andar sempre a lamentar e descontente daquilo que não tem, não consegue e não faz. Definir objectivos ambíguos e irreais, falta de reconhecimento, não participar no processo de mudança com acções construtivas e responsáveis.

Cultive o hábito de avaliar os seus sentimentos, principalmente, o medo, a raiva e o ressentimento, o sentimento de culpa. Reduza o seu investimento (prioridade) na avaliação dos sentimentos dos outros em detrimento dos seus. Não coloque rótulos em si, em função daquilo que sente Aprenda a distinguir aquilo que são os seus sentimentos daquilo que você é realmente. Não somos aquilo que sentimos, mas aquilo que fazemos com os sentimentos.

Nas situações de stress aprenda a inspirar e a expirar (respirar). Assim estará a fornecer oxigénio ao cérebro, em vez de se privar dele (apneia). Nestas alturas de tensão/esgotamento diga a si mesmo mensagens que auxiliem o relaxamento (mantras) “Calma…vou relaxar”, uma oração e ou outras.

Na prevenção das dependências, não é tudo urgente, antecipasse o imprevisto e o indesejável através de planos concretos, objectivos realistas, competências individuais e sociais (pessoas). Os nossos filhos merecem esse investimento e como pais crescemos junto com eles, em vez de cristalizarmos.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

As competências mais significativas contras as drogas aprendem-se em casa






Sabia que os pais que falam com os filhos sobre as drogas, sabem o que se passa com os filhos e com quem eles se relacionam reduzem as possibilidades de consumirem drogas (Biglan e colegas, 2004)?


Devido às vidas atarefadas, alguns pais, infelizmente, não reconhecem a influência que exercem sobre a vida dos filhos. Como pais, conseguimos fazer a diferença entre aquilo que os nossos filhos pensam e fazem em relação às drogas. Conseguimos, facilmente, estabelecer comunicação com eles, sobre medidas que sirvam para prevenir e/ou adiar o consumo, e, caso se verifique necessário, através de factos concretos, elaborar um plano de acção quando eles estão envolvidos no consumo e/ou consumo problemático (abuso) de drogas.

Um estilo parental altruísta, dinâmico, carismático é suficiente para tratar, gerir e orientar o tema das drogas e o álcool na família. Sabemos que não é fácil, mas assumir um papel activo e assertivo, em vez de agressivo, manipulador ou passivo poderá fazer toda a diferença na vida dos nossos filhos.

No dia-a-dia, utilizamos drogas, tal como acontece com a alimentação, que modificam a maneira de pensar, sentir e agir. Podemos incluir, nesta lista, as drogas utilizadas para fins medicinais e terapêuticos, o álcool, o tabaco e a cafeína. Pertencemos a uma cultura que consome drogas, lícitas, incluindo o álcool e o tabaco, e as ilícitas. No entanto, existe uma preocupação, generalizada pela sociedade, quanto ao fenómeno das drogas ilegais (trafico, consumo, dependência), todavia, acaba por ser irónico, visto que, as drogas que provocam mais danos e representam um risco serio para os jovens são as drogas legais, tais como o álcool, o tabaco e a utilização indevida de medicamentos sujeitos a receita médica. Ao constatarmos esta realidade, sabemos que o processo de desenvolvimento dos jovens consiste em experimentar coisas diferentes e testar os limites e algumas regras impostos pela família, escola, comunidade e sociedade. Tal como aconteceu com os pais durante a sua adolescência, nesse sentido, não nos surpreendemos, se alguns jovens consumirem drogas ilegais. Felizmente, a maioria destes jovens não continuam o consumo regular e a maioria não desenvolve problemas sérios associados às drogas (por ex. dependência). Será mais realista pensar que os jovens permanecem curiosos sobre o efeito das drogas, sejam legais e/ou ilegais, ao invés de negar esse possibilidade.

Como pais, uma das preocupações é descobrir, que um dia, os nossos filhos usam drogas. A primeira reacção pode ser de choque, raiva, culpa, negação e procurar um/a culpado, “Como é possível isto estar a acontecer?! O que andas a fazer à tua vida?” Embora seja normal, este tipo de reacções, também precisamos de pensar e assumir um papel, activo e positivo, no apoio, aos nossos filhos, nos períodos de crise e adversidade, isto é, pode ser drogas como pode ser outro problema qualquer. O problema associado às drogas, é daqueles cenários catastróficos que nunca pensamos possível vir a acontecer. Acreditamos que o problema das drogas, legais e ou ilegais, só acontecem aos outros, às famílias carenciadas e sem recursos, desestruturadas, até ao dia que acordamos para a realidade (pesadelo). Alguns pais pensam “O que é que fiz de errado para isto estar a acontecer?”

Numa situação desta natureza complexa, como pais, é importante ter bem presente e em mente uma ligação privilegiada na comunicação (canal aberto) com os nossos filhos. Será através deste “canal aberto” que iremos manter activo o vínculo que proporcionamos no apoio que considerarmos necessário. Apesar de tudo, somos a referência e representamos o apoio necessário para eles se desenvolverem.

Educação parental e as drogas
Sabia que em relação à educação parental e as drogas os comportamentos (dos pais) funcionam melhor do que as palavras? Como pais e família precisamos de repensar o nosso próprio consumo de álcool, tabaco, medicação e ou outras drogas. Precisamos de estar alerta, conscientes, sobre a possibilidade de os nossos próprios lares/casas serem uma fonte acessível de drogas legais, álcool, tabaco e ou medicação receitada pelo medico. Nesse sentido, é preciso monitorizar o acesso a elas. Recordo vários casos, indivíduos dependentes de substancias psicoactivas licitas e ou ilícitas, que iniciaram os seus consumos com medicação dos seus pais, avós e outros que beberam álcool pela primeira vez, em idade prematura, com o consentimento dos pais.

Sabia que em relação à educação parental e as drogas é necessário existir uma atenção genuína, espontânea e honesta sobre os interesses e as vidas dos nossos filhos, desde crianças? Simples, converse com eles, não faça interrogatórios. Seja um ouvinte activo em relação às motivações, às ideias e ambições dos seus filhos. Durante a conversa com eles pergunte a si mesmo o seguinte “O que é que ele/a está a querer dizer?”

Sabia que em relação à educação parental e as drogas a palavra-chave é Comunicação? Ouvir, sem interromper, as ideias, as opiniões inovadoras e diferentes, mesmo que não concordamos com elas. Desta forma, promovemos uma maior proximidade e entendimento imprescindível (elo), afim de que, os nossos filhos, se sintam à vontade para nos dizer coisas e sobretudo falar em assuntos que nós, pais, não desejamos ouvir da boca deles, mas como pais, precisamos de ouvir. Por vezes, desenvolvemos expectativas irreais em relação ao que gostamos de ouvir dos nossos filhos, essas intenções podem não ser o mais importante. Alguns jovens afirmam “Não falei com os meus pais sobre as drogas porque eles iam castigar, senti medo.” Nós, os adultos, também recuamos perante o medo, nas mais diversas questões do dia-a-dia.

Sabia que em relação à educação parental e as drogas os pais não precisam de ter todas as respostas? Ao longo do desenvolvimento dos nossos filhos, vamos aperfeiçoando as competências na comunicação, todavia podem surgir assuntos mais complicados dos quais precisamos de pedir ajuda. Ao agir desta forma, estamos também a encorajar, os nossos filhos, a pedir ajuda, aos pais e ou a outras pessoas significativas (educadores) quando for necessário.

Sabia que em relação à educação parental e as drogas precisamos de saber responder, o mais honestamente possível, às questões colocadas pelos nossos filhos? Proporcionar-lhes informação actualizada e relevante, mas que eles consigam compreender. Como pai/mãe, educador/a, considera que os seus filhos/pupilos estão à vontade para abordar o assunto das drogas, legais e/ou ilegais?

Falar sobre drogas, tal como outros assuntos importantes, por exemplo o sexo, gestão de conflitos, competências, ambições, os estudos, a alimentação saudável e diversificada faz parte da responsabilidade parental, que ao inicio, pode ser um assunto delicado, mas havendo de ambas as partes, pais e  filhos, a abertura, o compromisso, a disponibilidade, a honestidade, a confiança, a cumplicidade, a intimidade suficiente, a relação entre ambos irá beneficiar através de uma vinculação genuína, resiliente e duradoura. É do senso comum, os filhos contam com o amor, a segurança e a protecção dos pais, para que um dia sigam o rumo das suas vidas (saudáveis), tal como os pais também fizeram. Os pais não são amigos dos filhos, são a família.

Por mais que tentemos ser árbitros perfeitamente calmos, a tarefa de educar acabará por produzir alguns comportamentos estranhos; não estou a referir-me aos miúdos.” Bill Cosby

domingo, 17 de julho de 2011

Actividades que promovem conexões saudaveis