Podemos afirmar que os meios de comunicação social contribuem na transformação da nossa sociedade. Infelizmente, a maioria dos canais de televisão devota grande parte dos seus noticiários a acidentes, desastres e dedicam-se a explorar as eventuais calamidades que podem surgir num futuro próximo. Convocam comentadores e especialistas para uma discussão “acesa” e extensa sobre determinada catástrofe. Na abertura dos noticiários frequentemente escutamos o/a jornalista afirmar, por ex. “Um novo estudo revela que a utilização do telemóvel pode causar o cancro. Saiba mais nas notícias das 20”. Imediatamente somos invadidos por um receio (preocupação e ansiedade) visceral desejoso em ouvir atentamente todo o tipo de tragédias possíveis, mesmo que para isso nada retiremos de benéfico para as nossas vidas.
Por vezes, oiço os noticiários e procuro distanciar-me dos seus conteúdos “inflamados”, visto ter interesse em compreender este tipo de notícias sensacionalistas, absurdas e alarmantes e as implicações do medo na nossa cultura. De que forma, a guerra de audiências entre os canais de televisão que visam o poder, o controlo e o negócio, influencia e manipula o espectador, a comunidade e a sociedade? As famílias e as crianças? Pessoalmente, estou interessado em saber as consequências negativas deste tipo de jornalismo e como eu devem existir mais pessoas. Se alguém me informar, agradeço.
Os conteúdos dos noticiários sensacionalistas procuram manipular a informação num formato desproporcionado, inflamado e visam unicamente o aumento das audiências, e obviamente em potenciar o sensacionalismo. Estes noticiários são apresentados ao telespectador em forma de verdades absolutas, em alguns casos reforçados pelos comentadores e especialistas nas tragédias, que por vezes aparentam também beneficiar desse mesmo sensacionalismo em benefício próprio. O sensacionalismo alimenta-se de mais sensacionalismo. Quase que nos “obriga” a estar informados. Este frenesim gera preocupação desenfreada, sem regras ou limites, em vez de uma opinião pública realista, crítica e ponderada.
O noticiário raramente fornece informação nova ou relevante sobre segurança, mas a sua urgência revela a importância da repetição e, consequentemente, obtém a nossa atenção, como se entrassem pela nossa casa adentro e gritassem “ Não saia de casa ou será morto! Oiça o que lhe tenho para dizer sobre como poderá salvar a sua vida!” São imagens perturbadoras apresentadas com uma urgência artificial e a implicação habitualmente falsa que é imprescindível para si assistir. É deste modo que os noticiários televisivos funcionam como um negócio. O medo tem um lugar justo nas nossas vidas, mas não é o mundo dos negócios, muito menos nas vidas das crianças.
Nestes tempos difíceis aparentamos estar num estado de alerta constante, porque a nossa sobrevivência requer que aprendamos sobre as coisas que nos podem magoar. É por isso que abrandamos perante um terrível acidente de automóvel. Não se trata de curiosidade mórbida, mas sim de aprendizagem. Ao observarmos comentamos ou pensamos: “Olha este devia estar bêbado,” ou “Deve ter sido numa ultrapassagem, “ ou “Não viu o semáforo vermelho”. A nossa teoria é interiorizada, talvez para servir de recurso, caso seja necessário.
Os noticiários sensacionalistas programam e direccionam esses medos para nós e as respectivas audiências são virtualmente garantidas, por uma das mais fortes forças da natureza - a nossa vontade em sobreviver. O que mais tememos é projectado, reflectido e antecipado no ecrã da televisão. São deste tipo de preocupações que a nossa ansiedade generalizada se “alimenta”. Podemos pensar “Bolas, e se um dia me acontecer uma tragédia destas?”.
Há vários anos que não assisto aos noticiários. Estou “abstinente” deste tipo de informação (droga) da qual não necessito para viver, bem pelo contrário, não me faz falta absolutamente nenhuma. Experimente também, em conjunto com a sua família.
Se for um espectador atento e crítico, repara que quando as notícias da actualidade não são suficientemente inflamadas e não existem tragédias “novas”, actualiza-se uma história antiga. No mundo do jornalismo das notícias, as histórias assustadoras nunca acabam.
Se estiver atento os noticiários estes adoptam algumas frases favoritas, uma das quais é por ex. “A polícia de segurança pública fez hoje uma descoberta horrível, na Av. da Liberdade, em Lisboa e vamos imediatamente passar ao repórter no local. Aparece o repórter no local da tragédia, de preferência conhecido do público em geral e já associado a outras tragédias. Carrega um semblante incomodado e a sua voz sugere tragédia e ou tristeza.”
Se estiver atento os noticiários estes adoptam algumas frases favoritas, uma das quais é por ex. “A polícia de segurança pública fez hoje uma descoberta horrível, na Av. da Liberdade, em Lisboa e vamos imediatamente passar ao repórter no local. Aparece o repórter no local da tragédia, de preferência conhecido do público em geral e já associado a outras tragédias. Carrega um semblante incomodado e a sua voz sugere tragédia e ou tristeza.”
As novas tecnologias contribuem para o acesso e o arquivo de montagens chocantes sempre disponíveis, de modo que, actualmente, se não acontecer nada de terrível a nível nacional, poderá ouvir, “A polícia russa fez hoje uma descoberta trágica, veja mais pormenores, já a seguir ao intervalo”. Pode ter acontecido a milhares de quilómetros, mas é horrível. Quer regressem ao passado para encontrar algo chocante, ou dêem a volta ao mundo, em nenhum dos casos é necessariamente importante para a sua vida. Os noticiários são uma lista de mortes, tragédias, acidentes e catástrofes inabaláveis – que nos entra pela casa sem que para isso seja necessário sair do sofá.
Compreender como os noticiários televisivos funcionam é indispensável para a nossa segurança e bem-estar. Estar exposto a este tipo constante alarme e pânico choca-nos, ao ponto de se tornar impossível separar entre o irracional (preocupações generalizadas) e a realidade. È normal ouvir alguém, em jeito de desabafo - “Está TUDO doido.” Uma vez que se trata de sensacionalismo e não de informação, obtemos uma visão distorcida do que realmente causa perigo para nós.
Considero importante poupar as crianças a este exagero jornalístico. Acima de tudo, é nossa responsabilidade, educa-las para que adquiram competências e consigam interpretar a mensagem central e descodificar entre aquilo que é importante do supérfluo. Vai tudo continuar na mesma.
Deixo este link caso deseje saber mais sobre ética no jornalismo.
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