quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Bullying - "Até hoje"





Até hoje!
"Eles estavam enganados..."
As consequências do bullying podem permanecer para o resto da vida: "Mais Vale Prevenir Do Que Remediar"
Veja o vídeo


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Vale a pena mudar ou permanecer cristalizados e impotentes?


Noticia no Jornal de Noticias de 30/12/12:  “Portugueses devem prevenir doenças para ajudar SNS”
O atual Secretario do Estado da Saúde considera que “ os portugueses têm a obrigação de contribuir para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde prevenindo doenças e recorrendo menos aos serviços.” Ainda na mesma notícia referia, e é esta a parte que mais interessa, visto contemplar a questão da prevenção das dependências, “Os problemas ligados ao tabaco, ao álcool e à diabetes tipo 2 (que é prevenível) representam um encargo para o Estado de cerca de 800 milhões de euros. O tabaco custa 500 milhões, o álcool 200 milhões e a diabetes 100 milhões, só em medicamentos. Na prevenção, os ministérios da Saúde e da Educação vão promover um campanha nacional nas escolas para alertar para os malefícios do tabaco, álcool e novas drogas. Em relação ao álcool, o Governo prepara-se para apresentar legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 anos e que restringe a sua comercialização em bombas de gasolina ou lojas de conveniência durante o período noturno.”

Evitando entrar nas questões políticas e dos partidos, mas aproveitando o discurso do senhor secretário do estado, aproveito para abordar, mais uma vez, a inexistência de políticas nacionais que contemplam a Prevenção das Dependências. Segundo os números avançados pelo senhor secretário do estado, em relação aos custos para o Estado, quanto ao tabaco (500 milhões), álcool (200 milhões) onde não faz qualquer referência dos encargos relacionados com as drogas ilícitas, por exemplo as drogas ditas “leves”, posso concluir, mais uma vez pelas palavras do senhor secretario do estado que todos os esforços em relação à politica nacional da prevenção das dependências em Portugal ou são inexistentes visto não haver uma avaliação concreta ou não estão a dar resultados ou mais preocupante não existe. Esta realidade já é uma herança amarga de dezenas de anos, visto não haver vontade politica para mudar; a prevenção nunca funcionou e não funciona com campanhas nas escolas. A prevenção faz-se antes, durante, após o nascimento e ao longo da vida, como sabemos ninguém nasce com um manual de “boas praticas”, neste mundo em constante “alvoroço” e perigoso para algumas crianças vulneráveis.

De acordo com estudos, nos EUA, cada dólar investido na prevenção poupa-se sete dólares no tratamento e vinte e um dólares em serviços sociais. Então se poupa com a prevenção do que é que estamos à espera?

Na minha deslocação pelas escolas e famílias sobre a prevenção todos são unanimes em afirmar que é preciso fazer qualquer coisa porque o fenómeno já se transformou num flagelo, mas depois, quando é necessário elaborar programas e objetivos, assumir compromissos e envolver a investigação e a experiencia o resultado é nulo, porque não existem pessoas que assumam verdadeiramente a causa, com compromisso pela missão.

Por exemplo, quanto à afirmação do senhor secretario do estado sobre a alteração da legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 anos, na minha opinião, a alteração já peca por tardia, visto haver noticias e a investigação realçar o surgimento do fenómeno denominado Binge Drinking entre adolescentes, e em alguns casos entre  jovens com 12 e 13 anos. Acredito que exista vontade política em mudar as mentalidades, mas na prática, é só um plano de intenções, porque nada muda. Esta “promessa” dos políticos e dos partidos, sobre a legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 é difundida há vários anos, diria pelo menos há uma década, e permanece na secretaria dos ministros, visto não ser urgente e eventualmente, haver lobbies, da industria do álcool, que pretendam que as coisas permaneçam como estão, porque os nossos jovens, menores de idade, continuam a representar uma fonte de receita devido ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Se é assim com o álcool, como será com a legalização do cannabis? Não basta legalizar, e depois quais são as estruturas e políticas existentes para a prevenção? E para o tratamento?

De acordo com uma notícia do JN, em 2010, os hospitais portugueses registaram 28 óbitos por uso de álcool ou drogas. Neste mesmo ano, segundo dados da Direção Geral de Saúde (DGS) 3000 doentes foram assistidos por estes motivos, consumos de álcool ou drogas. Convém salientar que o álcool também é uma droga psicoativa e a mais perigosa. No mesmo relatório da DGS sobre a morbilidade hospitalar no Serviço Nacional de Saúde, 2010, houve 3197 doentes a receber alta dos hospitais por uso de álcool e ou outras drogas e perturbações mentais induzidas por estas substancias. Estes doentes representam quase 40 mil dias de internamento durante um ano. Em relação a 2009 registaram-se 31 óbitos por consumo de álcool ou droga, mais 4000 dias de internamento e mais 200 doentes observados por esta causa.

Definitivamente, “mais vale prevenir do que remediar”. A saúde e a qualidade de vida das nossas crianças, tem estar acima dos interesses económicos e dos lobbies. É preciso que os decisores políticos, em conjunto com a sociedade civil, assumam a negligência e mudem os paradigmas disfuncionais que reforçam o consumo, o abuso e as dependências de substâncias psicoativas lícitas, incluindo o álcool e as ilícitas, para depois não virem dizer que o Estado gasta não sei quanto milhões de euros. Em relação ao assunto das dependências, se nada muda, a tendência é para agravar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Efeitos da Ingestão Aguda de Álcool, segundo o Dr. Pedro Girão



O consumo de álcool…
  • Torna mais fácil a integração no grupo.
  • Reduz a tensão e a ansiedade.
  • Alivia o stress e a baixa autoestima.
  • Ajuda a esquecer preocupações, sentimentos depressivos e problemas relacionados com escola/família.
  • Aumenta a confiança e atracão sexual. 

Consequências do uso/abuso frequente do álcool nos jovens:
  • Queda no desempenho escolar;
  • Dificuldades de aprendizagem/memória;
  • Problemas no desenvolvimento emocional;
  • Complicações decorrentes da desinibição excessiva (acidentes, etc.)
  • Gastrite;
  • Hepatite, pancreatite (fase crónica).

Intoxicação aguda: alcoolémia
  • Para uma determinada quantidade de álcool ingerido, a alcoolémia (taxa de álcool no sangue) nem sempre é fácil de prever, variando sobretudo com o peso e o sexo (as raparigas são mais vulneráveis).
  • Em média, ao fim de meia hora:
  • 1 Dose bebida menos graduada – 12 grau alcoólico = 0,30 g/l
  • 1 Dose bebida mais graduada – 40 grau alcoólico = 0,46 g/l
  • Limite legal para conduzir: 0,5 g/l
  • Taxa de 0,5 g/l - redução do stress, alívio da ansiedade; 
  • Taxa de 1,5 g/l - ligeira intoxicação (linguagem desinibida)
  • Taxa> = 2,5 g/l - graves sintomas de intoxicação com perda de controlo. Pode ocorrer turvação da visão, descoordenação muscular, diminuição da capacidade de reação, diminuição da capacidade de atenção e compreensão, deterioração da capacidade de raciocínio e da atividade social, irritabilidade, descoordenação, amnésia, etc.
  • Taxa> 4,5 g/l - existe perigo de vida: risco de depressão respiratória,

Intoxicação aguda: quadro típico
  • Hálito característico (nem sempre, por exemplo a vodka)
  • Falta de coordenação de movimentos e dificuldade na articulação de palavras;
  • Alegria e exuberância de atitudes;
  • Conflitualidade;
  • Ventilação irregular e acelerada;
  • Palidez e suores frios;
  • Contrações de pequenos grupos musculares;
  • Alterações da lucidez, equilíbrio, força e consciência (em casos mais graves pode surgir o coma alcoólico). 

Intoxicação aguda: coma alcoólico
  • O coma alcoólico é o estado de coma causado pelo excesso de álcool no organismo. Esse quadro é grave e tem indicação para internamento hospitalar urgente. Caracteriza-se por:
  • Ausência de resposta a estímulos (físicos, verbais);
  • Perda de reflexos (tosse, deglutição);
  • Depressão respiratória.
  • Hipoglicémia: Baixa concentração de açúcar no sangue, podendo provocar um quadro convulsivo.
  • Hipotermia: Baixa temperatura corporal (valores inferiores a 35ºC), provocando alterações das funções vitais.

Intoxicação aguda: atitudes a ter em conta
  • Se a vítima estiver consciente:
  • Provocar o vómito para eliminar o conteúdo gástrico;
  • Dar bebidas fortemente açucaradas;
  • Manter a temperatura corporal;
  • Vigiar as funções vitais.

 Se a vítima estiver inconsciente:
  • Promover o transporte imediato para o hospital.
  • Manter a via aérea permeável;
  • Colocar a vítima em PLS (decúbito lateral);
  • Manter a temperatura corporal;
  • Colocar açúcar debaixo da língua;
  • Vigiar as funções vitais;

Dr. Pedro Girão, Anestesista

Comentário: O meu agradecimento ao Dr. Pedro Girão pela sua participação no Recuperar das Dependências. Tal como já foi referido neste blogue, inúmeras vezes, alguns jovens, que frequentemente recorrem ao álcool para se divertirem (desinibir, divertir) estão expostos ao fenómeno do Binge Drinking (Abuso na ingestão de bebidas alcoólicas, num período reduzido de tempo, cuja principal intenção é a intoxicação (embriaguez). Por ex. entre os homens o consumo seguido de 5 ou mais bebidas e nas mulheres o consumo seguido de 4 ou mais bebidas. Este fenómeno pode ocorrer durante vários dias seguidos e afecta negativamente o comportamento dos jovens - algumas consequências previsíveis após o Binge Drinking: acidentes, condução sob o efeito do álcool e/ou drogas, violência, agressão  sexual e abuso, doenças sexualmente transmissíveis (hepatites, VIH, DST), intoxicação alcoólica, coma e morte.
Hoje em dia através da internet você possui imensa informação sobre este fenómeno, nesse sentido, organize atividades lúdicas (jogos) em família. Seja criativo/a. Aborde esta temática junto dos seus filhos, antes que surjam problemas associados ao abuso do álcool e/ou consumo de substâncias psicoactivas ilícitas. Caso pretenda ajuda pode contatar-me através do email: xx.joao@gmail.com 
 «Mais vale prevenir do que remediar»




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Prevenção: O poder do dinheiro sujo fala mais alto



Tradução:
Questão: "Consideram que chegamos ao fim da guerra contra as drogas? Não, Não, Não."

Comentário: Esta imagem é sugestiva quanto à ineficácia da estratégia da prevenção das dependências. O lucro associado ao trafico e ao consumo de substâncias psicoactivas ilícitas movimenta muitos milhões de dólares, "dinheiro sujo", todavia, de acordo com os interesses económicos e financeiros justificam por si só a sua existência, com a conivência das autoridades, politicos e de instituições ditas credíveis. Com guerra ou sem guerra contra as drogas haverá sempre vitimas da dependência (Adicção), incluindo as famílias e as crianças.

sábado, 8 de setembro de 2012

O problema é grave, e a tendência é para piorar, mas negamos as evidências



Jornal de Noticias, de 18/8/2012
O Jornal de Notícias, na sua edição de 18 de Agosto, 2012, convidou sete personalidades para a participarem num painel sobre três questões relacionadas com a saúde em Portugal, todavia, vou somente selecionar a primeira porque é aquela que está diretamente relacionada com o tema da Prevenção das Dependências:
“Sociedade: Painel/ Tomar o pulso ao país” - Portugal é o terceiro maior consumidor de álcool da OCDE. Que consequências?”
 “Saúde: Portugal no pódio do consumo do álcool. Apesar dos números revelarem uma ligeira queda face aos últimos anos, Portugal mantém-se no pódio dos maiores consumidores de álcool do Mundo – 12,2 gramas per capita, a apenas uma décima de grama da França e empatado com a Áustria (números da OCDE). E há ainda a agravante de as estatísticas não incluírem o vinho produzido para consumo próprio. Sermos produtores de muitos e bons vinhos não justifica tudo. Sociavelmente, o álcool continua a ser um passaporte para um estilo “descontraído” e recebe um consentimento benevolente dentro das famílias e instituições. O crescimento das bebedeiras selvagens (botellón) aos fins-de-semana, entre os jovens mostram como as coisas estão a piorar ainda mais. Questão: Quem paga a factura? Quais são as consequências físicas e sociais? Eis uma chaga que nenhum Governo consegue sarar.” Jornal de Noticias.

 Portugal é o terceiro maior consumidor de álcool da OCDE. Que consequências?
  • António Ferreira - Presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João. Resposta: “A) Desagregação e violência familiar; B) Exclusão social; C) Agravamento do estado de saúde e desqualificação da população, diminuição da produtividade, etc”

  • Isabel Vaz - Presidente da Comissão Executiva da Espirito Santo Saúde. Resposta: “É um problema de saúde pública muito relevante pelas consequências sociais, da despesa e por ser um factor de risco de doenças cardiovasculares e hepáticas.”

  • Manuel Antunes - Cirurgião Cardiotorácico e Professor da Universidade de Coimbra. Resposta: “Infelizmente, o consumo excessivo de álcool é bem tolerado, até aceite, no nosso país. O impacto na saúde, praticamente em todos os órgãos, é devastador, também com consequências económicas e sociais muito grandes.”

  • Maurício Barbosa - Bastonário da Ordem os Farmacêuticos. Resposta: “ É muito preocupante, mais ainda a triste incidência em jovens de menor de idade. As consequências são péssimas para os próprios, as famílias e a sociedade. Os inevitáveis problemas de saúde refletem-se em menor qualidade de vida e em menor produtividade e conduzem inexoravelmente a mais despesa em cuidados de saúde. Os índices elevados de acidentes de trabalho, de viação, etc., e de violência também se correlacionam com o alcoolismo.

  • Nuno Sousa - Diretor do Curso de Medicina da Universidade do Minho. Resposta: “Nefasta para a saúde. Claramente a carecer de uma campanha de educação.”

  • Paulo Mendo - Antigo Ministro da Saúde. Resposta: É um grave problema de saúde pública, responsável por milhares de casos de doenças crónicas de cura difícil e tratamento muito caro. Pior (ou melhor), a cultura milenar do nosso povo aceita e tolera esta praga!”

  • Purificação Tavares -CEO da CGC Genetics. Resposta: “Os hábitos de população e os estilos de vida favorecem este consumo, pelo que deveria haver preocupação e contenção com a publicidade a bebidas alcoólicas, assim como colocar esta tónica no sistema educativo.”


Comentário: O álcool (etílico) é uma droga, depressora do sistema nervoso central, e é das substâncias psicoactivas, geradoras de dependência, mais consumidas no mundo, com a agravante de ser a mais perigosa. O álcool afecta a forma como o individuo pensa, sente e age.

De acordo com vários estudos, efetuados nos EUA, se os problemas com o álcool persistirem  o individuo alcoólico poderá morrer  15 anos mais cedo do que a idade media de morte da população em geral. As principais causas de morte são ataque cardíaco, cancro, acidentes e suicídio, embora também possa detetar doenças do fígado; cirrose.
Outra serie de estudos, efetuados nos EUA e na  Escandinavia, estabeleceram a importância de fatores genéticos na génese do alcoolismo e demonstraram que os filhos de pais biológicos alcoólicos, que deles foram separados quando crianças, cresceram com pais adoptivos, e sem qualquer conhecimento dos pais biológicos, apresentaram taxas muito elevadas de alcoolismo.
Outros estudos revelam que entre filhos de pais alcoólicos, um baixo nível de sensibilidade ao álcool resultou num risco de 60% de alcoolismo 10 anos mais tarde, enquanto a elevada sensibilidade ao álcool resultou apenas num risco de apenas 15%. A reação a doses moderadas de álcool possa dificultar aos filhos de alcoólicos o recurso às suas próprias sensações, depois de beberem, para decidirem o momento em que devem parar de beber. Estes estudos servem para sublinhar as possíveis componentes genéticas e biológicas do alcoolismo. Os dados recentes mais fiáveis indicam que o alcoolismo é uma perturbação geneticamente influenciada com uma taxa de hereditariedade, semelhante aos diabetes. Isto é, existe a possibilidade de o alcoolismo passar de geração para geração (pais para filhos)[i]

Todos nós sabemos que o abuso do álcool e do alcoolismo é um problema de saúde gravíssimo, mas dado à sua complexidade (epidemiologia e da etiologia, e os efeitos sociais) vivemos uma cultura de negação associado às consequências e aos efeitos trágicos do abuso do álcool, do alcoolismo no individuo, na família, incluindo as crianças, e os custos para o estado. Li algures que existem um milhão de bebedores problemáticos e 800.000 indivíduos alcoólicos, se juntarmos a estes dados, as suas famílias, incluindo as crianças, mais os jovens adolescentes que recorrem um binge drinking (abusar do álcool cujo intuito é a intoxicação/embriaguez), as despesas de saúde e as despesas para o estado, os acidentes e o suicídio, mesmo assim, apesar das evidências e do agravamento do fenómeno, todos nós, continuamos a abordar o problema de saúde pública, do abuso do álcool e do alcoolismo, como se estivéssemos a discutir o problema do vizinho ou como se não tivéssemos nada a ver com isso, atitude que designo de estigma e  negação. 

Para se ter uma noção da gravidade do problema, creio ser comum encontrar na maioria das famílias portuguesas, um caso de um individuo (membro da família, por exemplo; avô, pai, primo, tia, avó, mãe, irmã ou irmão) que tenha sido afetado pelos problemas associados ao álcool, no passado ou no presente; de realçar que o alcoolismo pode passar de geração em geração.

De acordo com os estudos científicos, na maioria dos países civilizados, incluindo a Organização Mundial de Saúde é urgente investir com compromisso na educação, na prevenção junto das populações e no tratamento do abuso e do alcoolismo, todavia, os interesses económicos e os lobbies acabam por ditar as regras, em detrimento da saúde das pessoas, incluindo as crianças, com o consentimento dos decisores políticos. Por outro lado, observo há vários anos, nos meios de comunicação social, de acordo com os sucessivos governos, promessas onde os políticos afirmam que a lei da venda e consumo do álcool vai ser alterada, mas mantém-se inalterável; somos o único país da EU a permitir a venda e o consumo de bebidas alcoólicas a menores de idade. Aparentemente, existe um certo laxismo e desinteresse na investigação jornalística, na legislação, na politica sobre este assunto complexo e trágico que afeta milhares de portugueses, incluindo as crianças, e passo a citar o jornalista do JN “Eis uma chaga que nenhum Governo consegue sarar “. Pergunto; se é considerado uma “chaga”, porquê teimamos em negar a tragedia humana e os custos económicos e sociais? Na minha opinião, a dita “chaga” nunca será eliminada, pelos decisores políticos, visto haver outros interesses mais importantes que os direitos humanos e o direito à saúde, incluindo as crianças.

À data deste post ainda somos um país que permite e promove o consumo e o abuso de bebidas alcoólicas a jovens menores de idade, estando assim a contribuir e para o agravamento para o problema de saúde pública.

Esta questão é um dos motivos pela qual justifico a existência e a minha dedicação a este blogue – Prevenção das Dependências.







[i]  “Abuso de alcool e drogas” Marc A. Schuckit - Climepsi Editores

domingo, 26 de agosto de 2012

"O Regresso à Escola”


Entrevista com o Dr. Miguel Mealha Estrada sobre “O Regresso à Escola”
Por: Patrícia Tadeia (Jornalista) Jornal METRO, Portugal

Patricia Tadeia: Como é que as crianças vêem e lidam, de um modo geral, com o primeiro dia de aulas? É um dia fundamental para traçar todo o percurso escolar?

Miguel Mealha: Varia de criança para criança; varia desde a educação e disponibilidade emocional que os pais têm dado e dão à criança, desde como a sua composição genética, estará, digamos “preparada” para lidar com o desconhecido e como se vai moldando durante o desenvolvimento.

Outro factor muito importante, é que o "primeiro dia de aulas" não começa quando a criança entra na escola, mas sim, enquanto a criança, neste caso o feto, ainda está dentro da barriga da mãe (para mais detalhes ler o meu artigo no Portal da Saúde, "O Irrelembrável e o Inesquecível- A Alquimia do Nós" (http://saude.pt.msn.com/, na secção "Família- Fertilidade e Gravidez) - a criança desde essa etapa, digamos, já está a aprender. Com isto quero dizer que a preparação da criança para enfrentar e saber lidar de passo a passo com novas situações e desafios, começa pelo seu desenvolvimento, desde bebé, à cresce até ao primeiro dia de escola, e isto está dependente da capacidade dos pais de ensinar os filhos a auto-regularem-se psicologicamente entre outros factores sociais de influencia e mesmo da pré-disposição genética do ser humano, acompanhando assim os níveis de desenvolvimento do bebé e da criança (o qual não é linear) - este é um assunto extremamente importante o qual eu explicarei em mais detalhe nas seguintes perguntas; é essencial que os pais saibam, e eu farei o meu melhor em explicar em termos leigos, de certos factores muito importantes que a as ciências da neurobiologia afectiva e das relações nos informam cada vez mais sobre as frustrações, medos, ansiedades, oportunidades e possíveis resoluções de problemas que afectam a aprendizagem e o ser humano em si- tudo isto faz parte da composição da experiência emocional do aprender e ensinar.

Quanto ao "primeiro dia de aulas": é um começo, algo não concretizado, que trás uma série de expectativas (algumas conscientes e outras inconscientes), que na sua generalidade trazem sempre questões humanas tais como: um novo começo, que expectativas a criança e níveis de auto- estima trás consigo, estará preparada para lidar com o desconhecido e formar e manter relações, tanto com os professores como com os colegas- será um comprimento de desejos? A não ser que experiências negativas no passado tenham reduzido a capacidade emocional da criança para enfrentar tais dilemas; há sempre dúvidas, medos, incertezas, pensamentos "será que vou falhar?", "será que os meus pais me vão dar suporte?", "será que os meus pais vão deixar de gostar de mim se eu não conseguir?", "será que o professor ou professora irá gostar de mim?"- os riscos a tomar, o aprender cada vez mais a lidar com os medos e frustrações, o começar a saber a distinção entre as fantasias e a realidade, o saber lidar com a ansiedade e a incerteza, que neste período de desenvolvimento é crítico que tanto os pais e os professores estejam atentos e haja comunicação entre ambos para assim ajudarem a criança a desenvolver os seus mecanismos cerebrais e o seu sentido de coerência para lidar com o desconhecido, e passo a passo, a desenvolver uma aptitude mais independente na sua auto-regulação emocional- estes são alguns dos parâmetros irredutíveis dos direitos das crianças. Por tal, não digo que é o começo de uma trajectória de ensino, mas sim, mais um passo no desenvolvimento da criança que começou no útero da mãe.

Quanto ao primeiro dia de escola, existem sentimentos e comportamentos frequentes, que podem ser lidados com imaginação tais como:

• Levantar- se cedo. Isto significa que a criança pode ter um pequeno-almoço relaxante, deixando tempo suficiente para lidar com receios - e ainda chegar à escola a tempo.

• Não falar sobre o quanto vai sentir falta do seu filho/a. Não deixe que as suas preocupações sejam um obstáculo para com a criança- aprenda a lidar com as suas ansiedades sem as projectar para com as crianças. Tanto a pé com a sua criança para a escola (ou colocar ela no autocarro da escola), conversar com outros pais se você necessita de suporte. O seu filho/a já tem o suficiente com que se preocupar com o primeiro dia de aulas sem ter que ser responsável para acalmar as ansiedades doa pais.

• Foque-se na diversão. Se escolta seu filho à escola, conhecer o professor em conjunto e dar uma vista de olhos em torno da nova aula, falando com o professor acerca de coisas de que a criança gosta, tais como arte, arte, brincadeiras preferidas, até modos de leitura.

• Se o seu filho/a ficar chateado ou com ansiedade e medos, reconhecer o sentimento e peça ao professor para sugestões, incluindo na conversa a criança. Poderá dizer, "Eu sei que estás com medo- decerto que não és só tu, outros teus colegas também estarão. "Vamos pensar sobre algo que te vá a ajudar a sentir melhor.”. Sugira ler um livro juntos ou iniciar uma actividade.

• Peça ao professor para ajudar. Se o seu filho ficar ansioso ou com uma ligeira ansiedade de separação (o que nestes tempos é bastante normal), peça ajuda ao professor. Poderá dizer, "vamos dizer olá ao teu professor juntos. Ele irá tomar conta de ti e não te esqueças que eu penso sempre em ti."

• Fazer uma saída rápida se possível. Tomar a relação para com o professor/a para com o seu o seu filho/a, mas quando é hora de ir, vá. Uma saída rápida pode ser mais útil para a criança, com um "adeus e até logo, diverte-te."

As primeiras semanas de escola são um tempo para ajudar a criança ajustar-se às rotinas, aos seus medos e ansiedades. Entusiasme-se com o que ela aprende e ajude-a a tornar-se mais independente dos pais. Aqui estão algumas sugestões de como poder ajudar:

• Conheça o professor/a. Quanto mais rápido os pais estabelecerem uma relação positiva com o professor/a do seu filho/a, a probabilidade da criança em adaptar-se a novos ambientes e tornar-se independente na generalidade será mais elevada, pois a criança terá em mente que existe um elo de confiança entre aluno/professor que é baseado na auto- confiança dos pais, que se projecta para com o professor/a. Quanto mais segura a criança se sente, mais energia ela pode pôr em aprendizagem - ou seja, a partir da perspectiva dos pais, que pretende apoiar a sua criança formando esse vínculo de qualidade para com o professor/a.

• Quando leva a criança para a sala de aulas, peça para ver alguns trabalhos. Se você sente que a criança se sente desconfortável com receios, medos e ansiedades, foque-se no positivo, mas muito importante, não descarte os seus medos- valide-os, ouça a criança e que ela sinta que os pais sentem o que ela sente, para então ela se sentir emocionalmente compreendida. Peça-lhe para lhe mostrar um projecto de arte, ou outra actividade que ele está fazendo na escola. Faça entender a criança que é normal ter medo e ansiedade nos primeiros dias de escola e que a criança saiba que os pais e professores estão emocionalmente disponíveis para dar apoio à criança.

• Se o seu filho/a sente muito a sua falta, escolha um objecto especial, que ela pode trazer para a escola. Por vezes ajuda com a transição se as crianças podem levar uma recordação da casa - uma imagem da mãe, uma nota, um lenço, ou outro objecto especial para recordar-lhes que os pais o têm em mente. Incentive a criança para mostrar o objecto ao professor/a. Faça um acordo para com o professor como esse objecto pode ser utilizado durante o dia de aulas.

• Se o seu filho/a diz, "Eu não quero ir", é muitas vezes vantajoso lembrar-lhe acerca das coisas divertidas. Pense em algo que saiba que o seu filho gosta de fazer, ou gosta na escola. Veja se pode começar a fazer tal actividade junto com a criança. Recorde a criança de todos os novos ou velhos amigos na sua classe. Se você não leva o seu filho à escola, sugira que ele/a faça algumas destas actividades quando chegar à escola, e enviar uma nota para o professor sobre as suas preocupações. Mas mais uma vez, não descarte os medos da criança, em vez, valide-os e tome a sua ansiedade a sério, pois terá de dizer á criança que ela terá que enfrentar alguns dos seus medos, mas que a criança tenha em conta que estará lá sempre para ela. Pensamento positivo em demasia e não aceitar os seus medos faz com que a criança se torne emocionalmente invisível, criando mais ansiedade e tristeza na criança, por não se sentir emocionalmente compreendida.

• Não fique surpreendido se o seu filho/a vier triste no final do dia: as crianças muitas vezes necessitam de saber e sentir que os pais estarão lá para elas - fora da patologia, na "normalidade", é normal que as crianças se sintam mais seguras em trazerem as suas frustrações para casa. É bastante saudável que as crianças tragam tais receios e ansiedades para serem lidadas em casa com os pais, para assim as dinâmicas familiares irem evoluindo tal como as propriedades emergentes psicológicas da criança no elo familiar.
• Se encontrar problemas frequentes de ajustamento, tanto cognitivos como sociais, pedir auxilio á escola. Se a separação permanece ansiosa após algumas semanas, configurar uma reunião com o professor/a de seu filho/a e/ou com o director da escola para falar sobre melhores maneiras em que todos podem colaborar sistematicamente e em sincronização. Se possível, uma reunião sem a criança, e depois, agendar uma reunião com a criança, pois a criança sabe de certa maneira onde estão os seus medos, e que assim possa ser feito um plano de suporte emocional à criança.

• Participe nos eventos da escola. Vá a reuniões. Estes acontecimentos dão-lhe a oportunidade de ver o mundo funcional, tanto cognitivo como emocional, do seu filho fora de casa, e encontrar e conhecer pessoas responsáveis (assim como outros pais) com que possa partilhar ideias e experiencias.

A chave aqui é separar os seus próprios sentimentos sobre a escola desde a sua infância, para que os seus filhos possam ter um novo começo. Você como pai poderá ter tido uma experiência horrível (o que pode fazer com que se preocupe demasiado com a criança) ou uma experiência maravilhosa (que poderá fazer os pais insensíveis aos sentimentos dos seus filhos e não reconhecerem que eles podem estar a passar por um mau bocado. É por isso que pensar-se e separar-se da sua própria experiência para com a da criança é extremamente importante!

Patrícia Tadeia: Como é que os pais devem lidar com esta “independência” da criança?

Miguel Mealha: Penso que esta pergunta em grande medida já foi respondida na pergunta anterior. O mais importante é que a criança tenha em mente que os pais e professores a têm em consideração e estarão lá para ela, tanto para a ela, tal como, sem humilhação e punição a ajudarem a ajustar-se às regras básicas do funcionamento social e do aprender a estabelecer relações de qualidade.
Leia o texto na integra siga o link.

Dr. Miguel Mealha Estrada,
Consultório da Criança & Família,
Gabinete de Observação Médico Pediátrica, Lda.
Largo Luzia Maria Martins, 1-C, esc. 2
1600-825, Lisboa
Tel.: 217260970
TM: 917502234
www.pedopsicoterapia.com

Membro da AP, Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica
Membro da International Neuropsychoanalysis Society
Membro do Concelho Científico Do Portal de Saúde Mental, Família e Medicina

Comentário: O Dr Miguel Mealha é um colaborador regular no "Mais Vale Prevenir Do Que Remediar", nesse sentido, aproveito para expressar os meus agradecimentos pela sua participação. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Guerra sem fim à vista


“A actual estratégia internacional de controlo das drogas, cujo objetivo central visa um mundo livre de drogas, tem sido implementada no terreno, quase exclusivamente, através do recurso a ações policiais e a sanções criminais. Todavia, através de estudos recentes, revelam, que esta estratégia falhou nos seus intentos. Embora o efeito nocivo das drogas, nas vidas das pessoas e na sociedade, esta estratégia revela-se, excessivamente punitiva e não foi alcançada, em termos dos objetivos da saúde pública e tem contribuído para inúmeras violações dos diretos humanos.” 
  • Anand Grover, comissario das Nações Unidas para os direitos humanos


Sabia que a declaração da “Guerra contra as Drogas” foi anunciada pelo Presidente norte-americano Richard Nixon, em 1971? Passado 41 anos ainda não prevê um fim para a dita “Guerra contra as drogas”, pelo contrário, é um fenómeno universal que veio para ficar, do qual, todos nós, teremos que repensar sobre uma diferente estratégia.

O problema das drogas lícitas, incluindo o alcool e os fármacos, e ilícitas é um problema transversal na sociedade portuguesa. Na minha opinião, Portugal não possui um enquadramento, a convicção e o compromisso politico, cívico, jurídico e da saúde pública capaz de promover uma estratégia, de forma a lidar com os efeitos negativos das drogas lícitas e/ou ilícitas, assim como ser capaz de potenciar um reflexão publica profunda sobre as medidas que pretendemos adotar para o nosso país. Pelo contrário, existe um certo marasmo generalizado. Por exemplo, em relação ao abuso do álcool e do alcoolismo, em pleno seculo XXI, num artigo do Diário de Noticias, de 30/6/12, referia que 70% da população de Barcelos, com idade inferior a 50 anos, é afetada pelo alcoolismo. Considero que os jovens e as famílias portuguesas precisam, urgentemente, de um sistema político com o qual depositem confiança e esperança na luta contra este tipo de epidemia: O problema das drogas licitas, incluindo o álcool, e/ou ilícitas não acontece só aos outros.